A grande saga da vinculação de professores prossegue.É ridículo como estas coisas são feitas: ora vincularão com uns anos, umas vezes mais, outras menos; ora este ano, ora no próximo; ora precisam de um ano inteiro deste ano, ora de vários seguidos, ora aumenta, ora diminui.
Tanto adjunto nos gabinetes do ministro e secretários de estado e não há ninguém que lhes explique que a ação comunicacional está a ser uma m….. neste assunto?
A credibilidade do Estado vai às ruas da amargura com esta produção de decisões a olhómetro e com a aparência de encenação atamancada de um mau espectáculo, que só ajuda a angustiar mais os que têm a vida dependente dessas coreografias político-sindicais.
Hoje, o ministro veio dizer que vai vincular milhares. Não sabe, ou não diz, quantos (regra um da comunicação política: evitar falar se nada se tem a dizer e, o que disse, já se sabia). Dá a ideia de que falou só porque lhe puseram um micro na frente.
Imaginem que o Ministro das Finanças vinha anunciar grande descida de impostos mas não dizia quanto nem por aproximação…Trucidavam-no. No setor da educação vale tudo e as regras da política séria valem pouco.
Notícias sobre isto na SIC e no Sol, por exemplo. Há pouco, apareceu nova confirmação do que já se sabia: vai haver negociação suplementar e o assunto ainda vai rebolar mais um pouco.
Entretanto, como uma reportagem do fim de semana na SIC mostrou, continua muita gente a sofrer com o problema dos professores contratados deslocados (e vai continuar a sofrer, já que nem toda a gente que faz falta ao sistema vai ser vinculada ou, mesmo que isso acontecesse, continuariam deslocados).
Direitos das mulheres e depois manuais escolares
Um tema aparentemente menos importante no agendamento do dia: coeducação e a questão da presença da religião na escola pública, a propósito da decisão do Tribunal Europeu dos DH que obrigou pais muçulmanos na Suíça a deixarem as filhas ir à piscina. Comentário a merecer leitura de Fernanda Câncio no DN.
O tema tem interesse em Portugal e vivi-o na questão da frequência da escola por meninas ciganas (que não tem a ver com questões religiosas, mas com um certo posicionamento, por alguns setores dessa comunidade, em relação aos direitos da mulher).
Será que em Portugal o Estado lutaria pelos direitos das mulheres como aconteceu neste caso? (Duvido que a falta de coragem de alguns servidores do nosso Estado fosse tão longe na defesa de direitos, que nem deviam discutir-se).
A grande questão destes dias foram, contudo, os manuais escolares.
Manuais escolares: 1º round – RTP
A RTP apresentou uma reportagem (fraquinha) no Sexta às nove (o programa já fez muito melhor, mesmo em educação).
A confusão, constante no texto da peça, entre os livros amostra para escolha de manual (que são os chamados livros de professor que os alunos não podem usar) e os manuais dos alunos, usados ao longo do ano, é chocante pelo mau resultado de perceção que gera (e pelo que mostra de falta de cuidado na investigação).
O debate, no Sexta às 11 (na RTP3) mostrou as fragilidades da peça (em especial, graças à, sempre sintética e clarividente, intervenção do Paulo Guinote).
Manuais escolares: 2º round – TVI
Ontem, a TVI arrancou com uma série de 2 reportagens sobre o mesmo assunto (que andava a ser preparada desde Novembro, pelo menos) com um título ilustrativo sobre o negócio dos manuais escolares.
Esta reportagem da TVI foi, pelo que se viu na 1ª parte, muito mais sólida na construção e investigação (Alexandra Borges mostra mais uma vez o seu profissionalismo e acutilância).
Momento alto: a confrontação dos donos das editoras com livros iguais de capa diferente e o ar atrapalhado, de quem fica com a careca à mostra, com a revelação nacional do truque dos ISBN.
Momento menos positivo: a cena repetida das colegas professoras, na escola, a apagar manuais escritos a lápis. O custo hora de um professor para fazer aquele serviço é capaz de ser excessivo…. 2 ou 3 horas semanais de 2 professoras de borracha na mão dá uns quantos manuais. A fazer assim, realmente, não haverá poupança.
Pecadilhos e comentários
Alguns professores poderão ficar zangados por se ter falado na peça de uns pecadilhos nos processos de adoção (não é aí que está o problema mais fundo e são casos pontuais, que, mais que desonestos, mostram como as editoras tendem a violar os princípios da concorrrência e a conspurcar nisso alguns das escolas).
A verdade é que o tom geral da peça acabou por mostrar (ao contrário da da RTP) que o problema está nas editoras, e no seu negócio milionário, em ambiente protegido não concorrencial (com abstenção reguladora do Estado) e não nos professores e na sua forma de atuar em geral. Como o Guinote destacou com precisão na sexta-feira na RTP, de forma que prescindo de repetir.
Nota pessoal: participei uns segundos na reportagem da TVI, porque respondi a uma mensagem em que a jornalista pedia ajuda e tive uma longa conversa, em que respondi ao que me perguntaram, de que a jornalista aproveitou (e bem) o que entendeu.
Nunca me arrependi de colaborar com jornalistas. Hoje, tive uma maioria de comentários simpáticos (entre outros, dos meus alunos que festejaram ver-me no quadrado, com a generosidade de quem gosta de nós, sem duvidar).
Os 2 ou 3 antipáticos anónimos são gente que me diz coisas no género da “gestão de comunicação à soviética”: “o que disseste é mesmo verdade mas podias não ter confirmado que é assim” ou “cala-te pá que sabes o que dizes mas é inconveniente”.
Os comentários sobre a minha falecida mãe, por conta de ser minha progenitora, nem merecem outro registo, além de que são sintomas de que Trump e os seus trolls têm muita companhia, que se julga ilustre…..
Manuais escolares 3º Round….hoje na TVI
Como disse, respondi ao que me perguntaram, e o facto curioso da peça, é que, a dada altura, é o próprio responsável de uma editora que confirma: há escolas que recebem ofertas para a escola (ele até disse para os órgãos….mas expressou-se mal, claramente) por conta do sentido das suas adoções de manuais.
Hoje, a reportagem segue para um âmbito mais vasto e penso que teremos revelações interessantes sobre a questão macro do mercado dos livros e do papel do estado e dos governantes.
É pelo menos o que promete a promoção. Veremos daqui a pouco, uma meia hora depois das 20.