Tenho refletido, por estes dias, sobre as formas como se poderá iniciar o próximo ano letivo. Esta será a altura própria para pensarmos nisso!
Sim, porque não podemos esperar que em setembro a situação da pandemia esteja resolvida. Os problemas criados pela pandemia nas escolas não passam com as férias do verão e muito menos se resolvem sozinhos.
Parece-me por isso necessário que se comece a pensar em alternativas que sejam viáveis e que não coloquem em causa a saúde pública, será assim até que se encontre um tratamento ou uma vacina.
Perante a continuidade da pandemia em setembro impõe-se as seguintes questões:
- Qual o número de alunos por turma?
- Quantos professores a mais serão necessários?
- Quais as perspetivas relativas à migração de alunos do ensino privado para o ensino estatal?
Perspetiva-se que devido à situação económica do país no pós-covid, haja uma migração de alunos do ensino privado para o ensino estatal, pelo que um aumento de turmas em algumas escolas poderá ser uma realidade.
- Pretende o Estado apoiar as famílias para evitar possível migração?
- Como se prevê fazer a monitorização da temperatura a alunos e professores?
- Quem fornece as máscaras? Serão de uso obrigatório em contexto escolar?
- Qual o número de turmas em simultâneo que cada equipamento escolar alberga, para que se cumpra com as regras básicas de distanciamento social?
- De que forma poderá a escola recuperar a confiança dos pais?
- Qual a responsabilidade de cada organismo, M.E. e câmaras no processo de implementação de medidas?
- Como pretendem monitorizar a reabertura de maio e junho para que melhor planear setembro?
Pode até parecer precoce estarmos já a pensar nestas questões todas, mas uma vez que este período, e por sua vez ano letivo, será concluído no formato atual, é importante levantar certas questões que preocupam a comunidade social e escolar.
Ao final das matrículas do ensino público, 26 de junho, junta-se o concurso de professores 2020/2021, que está a decorrer, e obtemos o número de alunos existentes e o número de professores necessários para iniciar o próximo ano letivo.
Não podemos esperar muito mais tempo para decidir, teremos de enfrentar o próximo ano letivo com a certeza de que a situação continuará a ser extraordinária. Agir em vez de reagir!
Contudo, parece-me óbvio que não podemos mandar os alunos de volta à escola com 28 ou 30 alunos por turma. Sempre fui contra as “turmas galinheiro”, mas infelizmente o desinvestimento na educação a isso tem obrigado.
Esta situação poderá ser mitigada caso o ME e o governo desencadeiem medidas excecionais para resolver o problema na ajuda às famílias. Ao não o fazer irão aumentar a despesa pública, tendo de contratar mais professores, sobrando sempre para os contribuintes. Haveria também muita dificuldade de encontrar professores em grande quantidade para o registo de substituição das escolas não agrupadas e agrupamentos.
O facto de o Estado não ter resposta para as creches até aos 3 anos, assim como não ter resposta para um grande número de alunos na educação pré-escolar, sobretudo nas zonas urbanas, seria “obrigado” a apoiar as famílias, através das diferentes formas da resposta social que o país tem.
Neste momento, arrisco-me a dizer que, quanto mais novo é o aluno mais dificuldades estará a ter com este método de Ensino à Distância. As crianças do 1.º ciclo, por exemplo, precisam voltar à escola, porque é uma altura muito delicada da sua vida de aluno é quando aprendem a ler e a escrever e isso faz-se também através do afeto, da proximidade entre professor e aluno. Que seja com máscara e com todas as outras medidas necessárias de segurança, o importante é que voltem!
Todas estas decisões/planificações devem ser elaboradas em estreita colaboração com os organismos responsáveis pela saúde, por forma a acautelarem vários cenários que devem ter em consideração o superior interesse do Aluno.
Neste sentido e no intuito de promover o debate deixo algumas ideias que poderão vir a ser princípio de soluções e de responder às questões levantadas, nomeadamente:
- Reduzir as turmas a pelo menos metade do estipulado no pré-covid;
- Aumentar proporcionalmente o número de professores;
- Desencadear medidas excecionais de apoio às famílias com filhos no ensino privado/cooperativo;
- Criar turnos duplos em todas as escolas; (manhã / tarde);
- Complementar o presencial com o ensino à distância com turnos semanais;
- Garantir a distribuição de máscaras à comunidade;
- Garantir a existência e reposição de produtos de higiene (sabão líquido, papel higiénico, papel de secagem de mãos);
- Criar sistema de monitorização periódica da temperatura corporal;
- Definir bem o papel de cada entidade no que toca à responsabilidade no cumprimento do estabelecido (M.E., câmaras);
- Recolher e analisar todos os dados relativos à reabertura de alguns graus de ensino em maio.
Regressar é imperioso! É agora o tempo de planear!
Fonte: Público