A idade dos professores será um tema incontornável na Educação presente e futura. São legitimas as preocupações de toda uma sociedade que compreende a dificuldade em ter um corpo docente envelhecido. Estamos perante um enorme desafio político e social que deve ser levado muito a sério, rejuvenescer o corpo docente não ficará barato, mas como tenho dito por diversas vezes, a Educação não pode ser vista como despesa mas sim como investimento.
É legítimo exigir, que os impostos que pagamos, permitam a Portugal ter uma Educação ao nível da OCDE no que a investimento diz respeito.
Que fique claro que não estou a colocar em causa o profissionalismo dos colegas mais experientes, estou sim a alertar para o cansaço e desgaste que estes sentem e que pode por em causa o seu desempenho, tal como um jogador de futebol quando está perto de pendurar as botas.
Um em cada três professores tem 50 ou mais anos de idade
Pior é saber que quem está à porta dos quadros (vínculo definitivo) esteja já bem acima dos 30 anos de idade. O Arlindo Ferreira, através do seu blogue, apresentou dados que provam que o grosso dos professores contratados tem entre os 35 e os 38 anos. Isto significa que quando ocorrer a inevitável substituição dos atuais professores, estaremos provavelmente na mesma situação em que nos encontramos hoje e que o gráfico em cima bem demonstra.
O escritor Alexandre Parafita, num artigo de opinião para o JN, vai ao encontro destas preocupações. Os sublinhados são de minha autoria.
A geração dos professores avós
Está prestes a arrancar mais um ano letivo. Que professores irão os alunos encontrar quando regressarem à escola? Sabe-se, pelas estatísticas recentes do Ministério da Educação, que, num universo de 130 mil professores, apenas 500 têm menos de 30 anos. O grosso da classe docente está, por isso, a chegar à idade “sénior”, a idade dos avós. Não se pode dizer que tal seja absolutamente negativo. Ser depositário e transmissor de saberes experienciados e acumulados, de métodos testados no tempo, de memórias e valores intergeracionais, tem um valor incalculável que as sociedades modernas, infelizmente, não souberam ainda potenciar. Mas fazer depender de uma classe “sénior”, cansada e gasta, a sobrevivência de um sistema em permanente e vertiginosa mutação é um contrassenso.
As crianças e jovens estão hoje dominados pelas novas tecnologias. Regressam de férias com uma energia ritmada e “educada” pelos passatempos mais estranhos e complexos que a imaginação suporta: são os pokémons mais os pikachus, os universos star wars, o super-Mário ou os super-ninjas, são as lutas de zombies, os ninjago, dragon balls, monster high, power rangers… (o que sei eu, afinal?). E chegados à escola, que motivação encontram?
O sistema necessita de professores mais jovens. Impõe-se dar oportunidade aos que acabam de sair das universidades, e que, na sua formação ou nos estágios, já convivem com esta nova realidade. Não serão, por isso, surpreendidos pelos novos “saberes” dos alunos. São professores com energia, com dinamismo, com competência e com tempo, que, harmonizados com o caudal de sabedoria e experiência pedagógica dos professores “seniores”, contribuirão, certamente, para que os alunos não vejam no ambiente escolar uma “seca”.
A experiência dos anos é uma mais-valia, claro que é. Mas será que equipas pedagógicas quase integralmente formadas por professores de idade, a sonhar com a aposentação, conseguem dar a resposta adequada a turmas cada vez mais numerosas, com alunos cada vez mais irreverentes e indisciplinados e profundamente dependentes das novas tecnologias?
Dentro de uma década quase metade da classe estará à beira da reforma, mas nem então se perspetiva a necessária renovação, uma vez que os novos professores recrutados são quase tão velhos quanto os que já integram os quadros. E o reverso da medalha são os milhares de jovens docentes que ano após ano terminam os seus cursos e ficam no desemprego, obrigados a procurar outros caminhos.
* ESCRITOR
Excelentes artigos!
Eu, professora de 55 anos e desiludida, espero poder ensinar meus netos que não vale a pena colocá-los nesta escola pública.
Depois de ler este excelente artigo, permitam-me partilhar uma situação “deliciosa” que me aconteceu na semana passada.
Entro numa sala de aula do 1º ano, para dar a primeira aula de inglês:
– Quem és tu? pergunta um aluno.
– Sou a vossa professora de inglês.
– Quem és tu? – pergunta outro aluno e eu repito a resposta.
– Como é que te chamas?
– Teresa.
Sai uma garotinha, pequenina do fundo da sala, aproxima-se de mim e exclama:
– Mas tu tens cara de avó !!!
Este foi o comentário mais fantástico que um aluno alguma vez me fez. Adorei.
Fantástico 😉