No esgotamento de um final de ano lectivo, isolei os meus pensamentos, durante o mês que hoje termina, de tudo o que atenta contra as minhas convicções de moral, cidadania, profissionalismo, respeito, ética e honestidade. Tentei a sério, que nada interferisse com um descanso merecido e necessário para a minha sanidade mental. Ouvi e li todo o desenrolar de situações que fiz questão de manter em segundo plano pois precisava da monotonia do mar, do calor do sol e da suavidade da noite.
Preparo-me para o início de mais um ano com a panóplia de notas informativas, esclarecimentos das notas informativas, portarias, despachos, todas as intolerâncias dos que se dizem tolerantes e toda a ignorância de quem se apelida de iluminado. Assusta-me a perspectiva de continuar numa escola que serve de laboratório de experiências para que ideologias, aleivosias, pedestais, ódios de estimação e doutrinas, que por serem de interesse político e económico estão cientificamente correctas. Ai de nós, meros professores, termos opiniões ou verdades, mesmo que comprovadas pela prática, diferentes destas. Esta moderna inquisição queimar-nos-ia em praça pública como já é usual. O intolerante regime fez de nós os ignorantes e tolos. A humilhação pública dos professores é o seu objectivo, a analfabetização do povo é a sua arma.
Inflamam-se nos discursos da inclusão, da identidade e igualdade de género, da flexibilidade e de tudo o que permitir a distracção de assuntos bem mais pertinentes e essenciais a uma escola digna e justa para todos, alunos, professores e demais agentes da educação. Como professora e ser humano sempre respeitei todos sem excepção. Tento transmitir aos meus filhos e aos meus alunos essa consciência, pelas palavras e sobretudo pelo exemplo. Nunca precisei de nenhuma lei para assim agir. Não considero de todo que o que se está a legislar e a proclamar, seja em prol desse direito. Cada um de nós tem o direito a ser, estar e agir de acordo com as suas convicções. O respeito é uma regra básica do civismo. Não pode nem deve ser legislado. Os alicerces são a prioridade primeira se desejamos uma casa segura. Do que tenho assistido até agora, em silêncio, concluo hoje que não passam de adereços, sem qualquer urgência, pois ainda não se edificou o essencial.
Chegam esclarecimentos que atiram areia para os olhos de quem lê e ouve a comunicação social no seu melhor, ao serviço da imbecilização da população. A aldrabice de promessas várias (como a colocação de mais assistentes operacionais nas escolas, a redução do número de alunos por turma, as condições de trabalho, a falta de material adequado e actualizado…) serve para nem se dar conta que tudo não passa de vésperas de eleições.
Sinto insultada a minha inteligência e a de qualquer professor minimamente esclarecido quando secretários de estado, ministros, primeiro ministro e presidente da república vêm esclarecer todos os atentados à Constituição da República que, como todos sabemos é a Lei máxima do país.
Demos uso à nossa inteligência e experiência. Sejamos resilientes. Um bom ano lectivo para todos.
Maria do Rosário
Professora do 2º ciclo do Ensino Básico
Parabéns pelo texto. Concordo plenamente.
essa dos manuais que serviam para todos os irmãos lá de casa tem semelhanças com a atualidade, com a diferença que todos têm irmãos a quem devem passar os manuais usados e livres de riscos! quem se lembra da professora que proibia de riscar os manuais? (até a lápis que fosse!). viva a ditadura do capital!
Gostei de ler e concordo em absoluto!
“O intolerante regime fez de nós os ignorantes e tolos”
A humilhação pública dos professores é o seu objectivo, a analfabetização do povo é a sua arma.” – NEM MAIS!!!
‘Sinto insultada a minha inteligência e a de qualquer professor minimamente esclarecido quando secretários de estado, ministros, primeiro ministro e presidente da república vêm esclarecer todos os atentados à Constituição da República que, como todos sabemos é a Lei máxima do país” – Verdadeiros, óbvios e vergonhosos atentados e sem qualquer pingo de pudor!!! Onde mora a capacidade de indignação deste país?
Mas, igualmente vergonhoso é existirem ‘professores” que votam nesta gente!