Se dúvidas houvesse sobre o que aí vem, esta frase é clara como a água.
“As progressões na Administração Pública custam todos os anos 200 milhões de euros. Deste valor, quase 2/3 [66%] é gasto em carreiras especiais em que o tempo conta no processo de progressão” mas este valor é absorvido por apenas “1/3 [cerca de 33%] dos trabalhadores do Estado”.
Não sei se somos o terço a que o Governo se refere, mas uma coisa é certa, há muito que se fala na reformulação das carreiras e a docência é criticada por não valorizar o mérito na sua progressão mas sim o tempo de serviço.
Se concordo que a avaliação docente é simplista, também é verdade que qualquer avaliação que tenha cotas não valoriza a excelência, desmotiva a excelência.
A promoção de Alexandra Leitão a Ministra, após a luta cerrada que fez aos professores sobre a não recuperação do tempo de servido é um claro sinal do que aí vem, não só para os docentes, mas para todas as carreiras especiais, militares, policias e afins.
Quanto aos professores e ainda antes de conhecer o que pretendem fazer, lembro a espada que está neste momento sobre a cabeça da Educação:
- Apenas 1,3% dos jovens quer ser professor;
- No prazo de 10 anos, 40 a 50 mil professores estarão aposentados;
- Cerca de 80% dos professores estão em burnout.
Querem alterar as carreiras, força! Mas não se esqueçam que estamos neste preciso momento a atravessar o ponto de não retorno e não é com ordenados mais elevados para quem sai da faculdade, conforme prometeu António Costa, que se cria uma carreira apelativa e motivadora.
O Arlindo foi muito criticado pela sua proposta de carreira docente, mas julgo que ainda vamos suspirar por algo deste género.
Para terminar um pequeno desabafo. Nada tenho contra o aumento do ordenado mínimo, mas informo desde já que ao ritmo que este está a aumentar, sem que a classe média veja um aumento do seu rendimento, em breve penduro o apito e mais vale voltar a ser caixa de supermercado. Começo a ficar com a clara sensação, que todos os anos que estudei e as quase duas décadas de ensino, valem demasiado pouco quando comparando com o ordenado mínimo prometido!
Alexandre Henriques