Já estiveram sentados na mesma mesa, sozinhos ou acompanhados pelos pais do aluno e lhe comunicaram, olhos nos olhos, que será suspenso? E já o fizeram dezenas e dezenas de vezes? Garanto-vos que poucos, muito poucos mostraram agrado com o bilhete de ida para tão fabulosas “férias”. Então se são reincidentes é ouvi-los, “professor, mas vou ser suspenso? não pode dar-me um castigo aqui na escola?”.
Onde está a satisfação que tantos falam, onde está o êxtase com tão fantástica notícia?
Esta coisa irritante de encontrar defeitos em tudo é tipicamente nossa, então nas questões disciplinares é um fartote!!! Algo tão típico de uma classe tão crítica e desunida.
Se são suspensos é porque vão de férias, se não são suspensos é porque não se pune com a devida dureza…
Se são aplicados castigos corretivos, é porque eles gostam e isso não lhes custa, se não se aplica é porque não se faz nada…
Se enveredamos pelo diálogo é porque somos mansos, se não se fala é porque não atuamos de forma preventiva…
Se falamos com os pais é porque não adianta pois os pais não fazem nada, se não falamos devíamos falar, pois os pais é que são responsáveis por lhes dar educação…
Se os alunos vão para a rua é porque coitados perdem a matéria, se não vão é porque ficam a perturbar…
Blá, blá, blá…
Há sempre um blá…
Não tenho dúvidas que se fizesse uma sondagem sobre a forma como os alunos reagem quando são suspensos, a esmagadora maioria iria afirmar que a suspensão são férias impostas, passadas a jogar playstation, ver televisão e dormir até às tantas.
A personalidade do aluno suspenso tem traços de “eu sou o mauzão e a mim nada me afeta”, pinceladas de “isso para mim são cócegas e quando regressar vocês vão ver com quantos paus se faz uma canoa” e umas gotinhas de “encolher os ombros quando confrontados com o seu futuro”.
Tretas!
Estes miúdos tornaram-se especialistas a esconder o que realmente sentem, é um mecanismo de defesa criado para resistir a um mundo onde só os mais fortes sobrevivem, onde mostrar sentimentos é ser fraco, é ter medo, é não ser digno de acompanhar os bad boys.
Querem provas?
Como explicam que os fãs das “férias” continuam a ir/regressar às escolas e porque não passam umas temporadas nos fantásticos resorts que seus pais possuem? E não me digam que é por imposição dos pais, pois quem chega a este ponto normalmente recebe a ordem dos pais como uma pastilha, mastiga e deita fora…
(atenção que estou a falar do aluno que vem à escola, os que nunca vêm são outro mundo)
É vê-los a rondar a escola, espreitando para o seu interior, aguardando que toque para os seus amigos terem ordem de soltura e assim voltarem ao “choca aí meu!”
A escola é a sociedade dos pequenos e mesmo os mais perturbadores, insolentes, mal criados, desmotivados, egoístas e egocêntricos, preferem o aconchego do grupo à frieza do isolamento.
Por isso pensem duas vezes quando associam isolamento a férias, já para não falar nas consequências ao nível das faltas e aproveitamento.
Eu costumo dizer aos alunos que a escola é como uma casa, a nossa casa, e se eu fosse algum dia a casa dos alunos e começasse a gozar com seus pais, a roubar telemóveis ou a partir televisões, a ordem era só uma, “vai-te embora, pois nesta casa há regras e aqui não és bem-vindo”. A mesmo se passa na escola e a escola tem de ter e cumprir regras…
Será a suspensão o melhor caminho?
É um mal menor… Ideal seria nunca chegar a esse ponto, ideal seria a escola possuir um espaço próprio, com “gentes” especializadas a tempo inteiro na recuperação destes miúdos, ideal seria contar com a família que se assumisse como tal, ideal seria ter professores altamente motivados com formação de base para lidar com conflitos e políticas educativas que encarassem a indisciplina como uma prioridade.
Como disse Mário Sergio Cortella (vejam o vídeo é muito bom), o primeiro adulto que diz não a estes jovens é o professor, é a escola, e por isso é que existe tanto confronto na sala de aula.
Multar os pais? Está previsto na lei, mas o modelo é meramente teórico? Quantos Diretores propuseram essa penalização? Ninguém sabe… Mas eu arrisco dizer que foram poucos ou mesmo nenhum. Ter que enviar a proposta para o Diretor Geral de Educação é danificar a imagem da escola, é danificar a imagem de competência que um Diretor pretende manter/passar. Vivemos numa sociedade muito competitiva e a imagem é sinónimo de sucesso, mesmo que mascare a, ou parte da realidade.
A suspensão é principalmente punitiva sim, mas é também preventiva e dissuasora. A interiorização de uma consequência negativa para determinado comportamento inibe comportamentos futuros, não altera as causas que levam a esses comportamentos, mas inibe e o meu dia-a-dia prova isso. E tal como na sociedade restante, danificada de valores e princípios que não foram transmitidos a devido tempo, por vezes só resta inibir. Inibir, para proteger e dar condições ao aluno desconhecido que tantas vezes é ignorado e negligenciado numa tentativa ingrata de tentar salvar todos, a bem de todos, mas tantas vezes apenas para benefícios de alguns…
Não é justo, mas o mundo nunca foi justo…
Nota:
Artigo.º 32 do Estatuto do Aluno:
6 — Ao aluno suspenso preventivamente é também fixado, durante o período de ausência da escola, o plano de atividades previsto no n.º 5 do artigo 28.º
Trabalhos forçados das 8h00 às 20h00,, sem folgas!!!!!
Ou fechado em casa, sem acesso a nada, nada , nada!
Se os pais tivessem de ficar em casa faltando ao trabalho E com verificação no domicílio pela Policia Segura do mesmo, os meninos deixavam de fazer asneiras. os pais teriam de por uma vez na vida educar. Mas vi uma e outra vez, alunos suspensos a irem ara casa, ficarem sozinhos, não cumprirem os planos, e nada acontece… nem aos papás que se desresponsabilizam, embora a Lei preveja penalizações… Mas a Lei prevê tanta coisa nunca aplicada.