O estudo realizado a 400 professores de 54 escolas, aponta aquilo que já referi no passado. Apesar de considerar a Flexibilização Curricular uma boa ideia, sofre de 4 pecados capitais que transcrevo do artigo escrito a 20 de março – A Flexibilização Curricular a este ritmo tem os dias contados
- não existe um acordo dos principais partidos políticos sobre este assunto e tal como na escola, há uma fratura clara entre duas pedagogias, a pedagogia “romântica” e a pedagogia do “chicote”;
- não foi reduzida a carga letiva dos professores, caiu-se no erro de tornar a flexibilização em mais papel, mais reuniões, sem dar as devidas contrapartidas;
- ficou a ideia que flexibilizar é fazer projetos a torto e a direito, é espetáculo, é fusão constante de disciplinas, é esquecer os currículos;
- faltou preparar e explicar muito bem ao corpo docente o que se pretendia com a flexibilização. Na escola, o que se diz de flexibilização é que flexibilizar é facilitar a vida aos meninos, é baixar o grau de exigência. Não é, não deveria ser, não pode ser.
A Flexibilização Curricular é uma ferramenta, é um abrir de porta para outras possibilidades, um processo que quando bem aplicado pode potenciar de forma significativa o sucesso escolar.
Ficam as conclusões do estudo da FENPROF, que curiosamente (ou não) também refere aspetos que não estão relacionados com a PAFC…
Agora, ouvindo mais de 400 professores de 54 escolas, de um total de 235 escolas com PAFC, de todo o país, o estudo conclui que a implementação do PAFC foi feita à custa dos professores, trouxe mais burocracia e trabalho não reconhecido e que o programa não é avaliado nem nas próprias escolas, onde foi implementado sem a preparação dos estabelecimentos e dos professores.
O estudo conclui também que os currículos são muitos extensos, os professores estão desmotivados e falta maturidade aos alunos para o desenvolvimento de projectos.
As conclusões do estudo assinalam ainda o “substancial aumento da carga de trabalho para os professores” e o elevado número de alunos por turma.
Os professores ouvidos apontaram igualmente a falta de recursos materiais, a indefinição de objectivos ou a burocratização como aspectos negativos do PAFC, além de também colocar em causa o currículo nacional.
Como aspectos positivos os professores salientaram, nomeadamente, o trabalho centrado no desenvolvimento de competências e não nos conteúdos, a preocupação com melhores aprendizagens, a gestão do currículo de forma flexível e contextualizada, e a possibilidade de os alunos se envolverem em projectos.
Questionada pela Lusa, a coordenadora do grupo de trabalho que fez o estudo, a professora Brígida Batista, disse não poder destacar aspectos positivos do PAFC porque “não há condições para o implementar nas escolas”.
“Não se pode mudar o paradigma sem mudar as condições nas próprias escolas”, disse a responsável, acrescentando que o PAFC não trouxe “uma mais-valia em termos de aprendizagem dos alunos”.
O projecto, considerou, “até podia ser interessante” se tivesse sido eficazmente preparado, com turmas pequenas, com bons espaços e boas salas, mas, ao contrário, disse, trouxe “horários sobrecarregados em turmas de 30 alunos”
Fonte: Público