Fica um excerto de um trabalho de fundo do Observador.
Nos exames do secundário, 14% chumbou a Matemática. Nas provas do 9.º ano, mais de metade reprovou, um terço com 10% de classificação. Afinal, de quem é a culpa dos maus resultados?
- A fatalidade social: “É bem aceite um mau resultado a Matemática”
- Portugal não está sozinho. A Matemática é difícil em todo o mundo
- O problema é dos currículos: verdade ou mito urbano?
- Sala de aula parada no tempo? Cuidado com as panaceias
- Jovens asiáticos em alta. O que é que eles têm que os ocidentais não têm?
- A culpa é dos professores ou são vítimas do sistema?
- O problema da abstração
- A matemática serve para quê?
- Sem matemática, não há empregos no futuro
“Há uma espécie de fatalidade social, cultural e familiar em relação à matemática. É relativamente bem aceite que os filhos tenham insucesso a Matemática. Muitas vezes os pais eram também maus alunos à disciplina e isso condiciona os alunos na sua relação com a Matemática”
“A Matemática é implacavelmente cumulativa. Tem características de integração vertical, de interdependência de um nível para outro, que não estão presentes em mais nenhuma matéria ensinada no secundário. Em História, por exemplo, posso saber imenso da Segunda Guerra Mundial e não saber nada do Império Romano. A Matemática isso não é possível.”
“Quando lhes perguntavam sobre os maus resultados, a resposta dos pais londrinos era de que os filhos não eram bons a matemática, mas que eram bons a outras matérias. Em Pequim, à mesma pergunta, os pais respondiam que os filhos eram preguiçosos.”
“Há estudos empíricos conclusivos: a competência do professor no que toca à educação matemática é crucial. E a personalidade do professor é um fator decisivo, ou seja, o método de ensino é o menos relevante”
“É importante perceber que a Matemática é a linguagem da abstração. O que nos distingue dos homens da caverna é o nível de abstração que conseguimos ter. A abstração permitiu-nos passar das trocas para o dinheiro, das moedas de ouro para os cartões de plástico. Hoje em dia, o que sobra do dinheiro é uma conta que consultamos num computador e que em breve será apenas uma linha de código num registos de bitcoins”Edward Frenkel, autor do livro “Amor e Matemática” e professor na Universidade da Califórnia (Berkeley)
Fonte: Observador
Para os pós-modernos meditarem e perceberem que estão absolutamente fritos. Do Oriente só querem o que lhes serve na cavalgada hedonista …
”…São milhares de páginas. Mas as respostas estão de facto todas ali: o que explica a grande diferença entre estudantes asiáticos e os do resto do mundo é a cultura confuciana. E foi exatamente o ter encontrado esta explicação que lhe valeu a medalha.
Nos anos 1990, uma pesquisa, que o levou a terras britânicas, pôs Leung a entrevistar pais de estudantes de Londres, Pequim e Hong Kong. A grande diferença era que os britânicos aceitavam bem as más notas dos filhos. “A resposta era que os filhos não eram bons a Matemática, mas eram bons a outras matérias. Em Pequim, à mesma pergunta, os pais respondiam que os filhos eram preguiçosos.” Esta fatalidade, que já foi apontada por Lurdes Figueiral, é exclusiva do Ocidente, segundo a pesquisa de Leung. Apenas neste canto do globo se aponta a falta de jeito natural para explicar os maus resultados.
Nos países onde a cultura confuciana é forte, acredita-se que qualquer pessoa que faça um esforço é capaz de ser boa a Matemática. E o trabalho duro é valorizado. Ou seja, a teoria de Leung é que os resultados não podem ser apenas analisados pela perspetiva pessoal, método de ensino ou qualidade dos professores. A componente cultural é fundamental.
“Na Ásia Oriental, nem mesmo os maus estudantes são assim tão maus. Tem a ver com a crença confuciana no esforço. Se disserem a um aluno que não é bom a Matemática quando é novo, como fazem no Ocidente, ele nunca será bom.”
Entre os ocidentais, também existe a ideia de que deve haver prazer associado à aprendizagem. Para responder a isso, Leung usa uma citação de Confúcio: “Aprender pode ser doloroso. Há um tipo de prazer diferente na aprendizagem, a sensação de conquista que se pode obter depois de um período de trabalho duro.”
Gostei de ler este comentário.
Nunca tinha pensado nesta questão com esta abordagem.
Interessante.
O comentário de Afonso Costa merecia ampla divulgação porque põe “o dedo na ferida”: a questão é mesmo a da cultura do esforço que, no Ocidente, foi substituída pela do hedonismo. Mário Vargas Llosa explica isso muito bem em “A Civilização do Espectáculo”.
Embora prefira a abordagem confuciana à do Várias Llosa…….