Greve climática
A mega-manifestação que, na passada sexta-feira, uniu multidões em todo o mundo na defesa do futuro do planeta teve impacto significativo no nosso país. Entre os participantes, milhares de jovens seguiram o exemplo inspirador de Greta Thunberg e faltaram às aulas para virem denunciar, nas ruas e praças de mais de 30 cidades portuguesas, a emergência climática. E defender acções urgentes que contrariem o aumento das emissões de gases com efeito de estufa e a contaminação ambiental provocada pela actividade humana.
Pelo meio, a imprensa alimentou uma pequena polémica: os alunos participantes nas manifestações devem ter faltas? Claro que, para estudantes mobilizados na defesa do ambiente, que participam nestas acções por convicção e não apenas como pretexto para faltar à escola, a questão deveria ser irrelevante: as lutas sociais e políticas implicam escolhas e de sacrifícios. As mudanças necessárias fazem-se com gente empenhada e decidida. Não ficam à espera de autorização superior para avançar.
Fim das aulas de EMRC nas escolas públicas?
O tema foi suscitado pela campanha eleitoral do LIVRE: deve haver lugar na escola pública, laica e não confessional como determina a Constituição, para aulas de Moral e Religião? Faz sentido o proselitismo religioso nas escolas, pago com o dinheiro dos contribuintes, num quadro legal que favorece objectivamente a Igreja Católica?
O LIVRE acha que não e, no plano dos princípios, não é difícil dar-lhe razão.
Contudo, o fim das aulas de EMRC levantaria complexos problemas, a começar pela situação em que ficariam os mais de dois mil docentes da disciplina. A verdade é que, sendo hoje a influência católica em Portugal uma sombra do que foi num passado ainda recente, a tradição conta, e muito: apesar de opcional, a disciplina de EMRC continua a ser livremente escolhida por muitos alunos e respectivas famílias…
“Jovens talentos” em vez de profissionais da educação
O Público, jornal sempre atento às ofensivas neoliberais no sector da educação, noticiava no início da semana que uma organização intitulada Teach For Portugal iria colocar recém-licenciados a colaborar com os professores nalgumas escolas problemáticas do país. Estes “jovens talentos”, formados noutras áreas que não a docência, não substituem os professores, mas deverão assumir este trabalho como uma experiência capaz de os valorizar pessoal e profissionalmente.
Trata-se de gato escondido com rabo de fora. A organização em causa é, como denunciou a Fenprof, a ramificação portuguesa de uma congénere norte-americana que se especializou na formação, acelerada e de qualidade duvidosa, de jovens professores. Por trás do projecto de colocar voluntários a exercer funções que exigem profissionais experientes e qualificados – professores, terapeutas, assistentes sociais, psicólogos, animadores, mediadores – está a ideia perigosa de que os problemas das escolas e dos alunos se resolvem com voluntarismo e “boa vontade”, e não com a alocação dos meios e recursos e adequados. E que o trabalho, podendo ser feito por qualquer curioso, não precisa de ser pago condignamente.
António Duarte, professor e autor do blogue Escola Portuguesa
“Exemplo inspirador de faltar às aulas” ?
Porra !
Deve ser por essa razão que os directores escolares não têm turma atribuída.
Para poderem ir “representar” a sua escola onde for preciso sem ter de faltar às aulas.
O problema surge quando os representados não se revêem nos seus representantes e, mesmo faltando às aulas, têm de ser eles a dar o corpo ao manifesto.