José António Faria Pinto, escreveu um artigo no SPN, intitulado “O que nos aconteceu”. No texto fica claro o desabafo, desilusão e até alguma revolta pelo afastamento docente na vida sindical.
Houve um tempo, não muito longínquo, em que reuniões sindicais inicialmente marcadas para a sala de aula de um professor que faltava tinham de ser mudadas para a biblioteca, o auditório ou até para o refeitório, dado o número de professores que a elas afluíam. Com a demonização dos sindicatos levada a cabo pela ideologia neoliberal dominante, o volume de presenças foi-se tornando cada vez mais desolador. A lei de Abril que deu aos professores o direito a utilizarem 15 horas por ano para esse efeito, como se fosse serviço oficial, ainda não foi revogada. No entanto, a cultura anti-sindical que insidiosamente se instalou nas escolas -com a colaboração dos poderes instituídos e até de muitos treinadores de bancada e radicais do facebook- fez com que essa lei se tornasse letra morta, mas não alterou o facto de as reuniões sindicais continuarem a ser um espaço essencial para ouvir os professores, analisar os problemas que afectam a nossa profissão, discutir posições e projectar a acção sindical. Por isso mesmo, apelamos à mobilização e participação nestes momentos de informação, formação e reflexão para a acção, e aqui deixamos os objectivos e os conteúdos das reuniões sindicais para este período lectivo:
Tirando o cariz político do texto em cima, é verdade que existe uma certa demonização dos sindicatos e até uma cultura anti-sindical. Ouve-se na sala dos professores (pelo menos das escolas que passei), frases como “lá vêm os chatos dos sindicatos” ou “é sempre a mesma cassete”…
Qual o motivo para esta insatisfação docente? Ficam algumas pistas:
- a quantidade exagerada de sindicatos que existem, gerando uma clara divisão e desconfiança entre professores.
- a ausência de uma ordem de professores, desejo de muitos professores e que é dificultada pelo movimento sindical.
- a conotação a partidos políticos, confundindo a agenda partidária com o movimento sindical. Esta acalmia sindical que tem sido tão criticada, não é certamente uma mera coincidência…
O eclipse de Mário Nogueira
(Ana Lopes – Sol)
- a eternizarão de seus lideres, professores que não dão aulas há muitos anos, levando a que docentes não se sintam identificados/representados por estes.
- a sensação de falta de democracia interna que reina nos principais sindicatos, visível pela duração excessiva dos mandatos de seus lideres.
- a falta de razoabilidade, até nas negociações com a tutela, caindo frequentemente no radicalismo, recusando consensos e uma abordagem mais moderada.
- algumas opções estratégicas que desiludiram os professores e o ter a consciência que são os professores e não os seus representantes, os únicos capazes de alterar o rumo dos acontecimentos.
- por fim uma descrença e prostração muito grande dos professores, cansados de lutas e “lutinhas”, greves para aqui, greves para acolá… Hoje o típico professor só quer dar as suas aulas (alguns nem isso), calçar os seus chinelos quando chega a casa e desligar da escola o mais rapidamente possível… Estão fartos!!!
Mas atenção, apesar de alguns tiros nos pés, considero o sindicalismo importante e na globalidade útil aos professores. O que referi em cima, se ultrapassado, pode criar uma nova dinâmica entre os professores e sindicatos. Por isso só posso apelar a uma maior participação sindical, eu pelo menos lá estarei…