Mal vai um país que tem como Primeiro-Ministro alguém, que em fevereiro deste ano, afirmou que a Educação é o investimento mais precioso, mas que por interesses partidários coloca esse seu investimento em standby. Ainda para mais, quando todas as sondagens mostram que a esquerda está em força e a direita tenta apenas sobreviver. Se é verdade o que diz a notícia do jornal I, constatamos mais uma vez, que os altos interesses do país são os interesses partidários. Goste-se ou não da reforma que tantas vezes foi anunciada pela Tutela, a sua não implementação no início do próximo ano letivo, só poderia acontecer pela manifesta falta de tempo e falta de “certificação” de qualidade. E como até à data, ninguém veio desmentir a notícia do I, dou como certa a sua capa.
O primeiro-ministro travou o avanço da reforma curricular em todas as escolas no próximo ano letivo por causa das eleições autárquicas.
O i sabe que as críticas das escolas e a indefinição sobre as medidas previstas a seis meses do arranque do ano letivo levaram António Costa a antever todos os problemas que poderiam surgir no início das aulas – que este ano vão arrancar a um mês das eleições autárquicas e em plena campanha eleitoral.
Para evitar correr riscos nas eleições, o i sabe que António Costa deu instruções ao ministro da Educação para recuar totalmente na medida, que está a ser trabalhada pelo secretário de Estado da Educação, João Costa, há um ano.
As indicações do primeiro-ministro surgiram, no entanto, após a apresentação pública do Perfil do Aluno (onde estão incluídas medidas da reforma curricular) – feita por Tiago Brandão Rodrigues a 11 de fevereiro –, e depois de tanto o ministro como o secretário de Estado terem feito declarações sobre a flexibilização curricular a órgãos de comunicação social e no parlamento.A solução encontrada para que a equipa ministerial não perdesse a face será avançar com a flexibilização curricular através de um projeto-piloto em apenas 50 escolas do país. A decisão já foi, aliás, comunicada verbalmente a alguns diretores de escolas durante uma reunião, confirmou o i. Foi ainda explicado nesse encontro, pela equipa ministerial, que as escolas iriam ser contactadas pela tutela para decidir se estavam interessadas em avançar com o projeto-piloto, de forma voluntária.
Já o escrevi e reafirmo, o ponto de partida para qualquer reforma, é o consenso alargado entre as diferentes forças partidárias, após a natural audição dos principais “aplicadores”, os professores. A fase seguinte, seria a de preparar os professores/direções para as mudanças, enquanto se testava o modelo em pequena escala.
Escreveu-se direito por linhas tortas (?), imperou o senso e percebeu-se que apressar mudanças significativas só traria mau resultado. Porém, o Ministério de Educação não pode ficar imune a uma certa inaptidão, quiçá, falta de experiência na política comunicativa. Apesar de considerar as ideias promissoras, a confusão gerada deu munições para quem tem uma agenda própria…
António Costa é um político experiente e sabe ler muito bem as “sensações” envolventes. Aquilo que pode ser visto como uma precaução, pode também ser encarado como um gesto de falta de confiança para com o seu Ministro de Educação, que no caso das provas de aferição foi tão célere a implementá-las.
Agora é esperar… esperar que hoje não tenha sido o primeiro prego no caixão de uma reforma que não passou das boas intenções, pois as reformas nascem e morrem à velocidade do voto. E até quando o voto estará a soprar de esquerda? Até quando???
P.S- pena é que o “alto e para o baile” não se estenda ao processo da municipalização em curso…
Mas quem é que lê o “i”?
Quantas vezes não tinham já dito que isto só avançava para o ano se tudo estivesse pronto? Eu ouvi ou li o secretário de Estado a dizer que estava mais preocupado com o trabalho do que com o calendário. Por isso qual é a novidade?
A novidade é o frete que andam a fazer ao PSD estes jornalecos todos e o Conselho de Escolas, que representam os partidos que os elegeram. Lançam notícias destas para denegrir quem trabalha bem. O Ministro e a equipa têm lutado contra vários lobis e por isso têm as feras contra eles. Essa é que é a verdade.
A táctica continua- atiram-se ideias para a praça pública; observam-se cuidadosamente as críticas, as sugestões, as propostas; finalmente adapta-se a estratégia às opiniões de quem entende de ensino e ambiente escolar.
Portanto, vão-se testar reformas, anunciadas para todos, mas impossíveis de assim serem aplicadas, porque não convenientemente preparada a aplicação.
Here we go again…
Então o melhor era aplicar reformas sem ouvir ninguém. Isso já o Crato fez e deu metas e cortes nas disciplinas que levam sempre.
Crato, mal ou bem, era uma pessoa ligada à Educação, com obras publicadas. Gostássemos ou não, concordássemos ou não, sabíamos com o que se poderia contar.
Na presente equipa do ME, temos pessoas que terão as melhores intenções, mas que não entendem do sistema educativo português. Andam às apalpadelas, transmitem insegurança e qualquer medida anunciada demora tempo infinito a ser aplicada ou nunca o será.
Aquilo que vivemos nada tem de comum com o que vai sendo anunciando.
Obras publicadas?!? Uns artigos de opinião com um ror de lugares comuns?
O discurso da actual equipa é claríssimo, mas assusta os poderes.
E diga lá: quer as medidas aplicadas para os acusar de estarem a mudar tudo ou quer debate para os acusar de de não decidir?
À última parte do seu comentário, não respondo porque resulta do facto de não me conhecer. Não tenho filiações partidárias. Defendo a verdade e aquilo que penso ser benéfico. Erro, como qualquer pessoa.
Obras publicadas por Nuno Crato:
-Zodíaco: Constelações e Mitos (Gradiva, 2001)
-Passeio Aleatório (Gradiva, 2007)
-A Matemática das Coisas (SPM/Gradiva, 2008)
-O Eduquês em Discurso Directo: Uma Crítica da Pedagogia Romântica e Construtivista (Gradiva, 2006)
Como co-autor:
-Eclipses (Gradiva, 1999),
-Trânsitos de Vénus (Gradiva, 2004)
-A Espiral Dourada, Coelhos de Fibonacci, Pentagramas, Cifras e Outros Mistérios Matemáticos d’ O Código Da Vinci (Gradiva, 2006)
– Relógios de Sol (CTT, 2007)
Como Coordenador:
– Desastre no Ensino da Matemática: Como Recuperar o Tempo Perdido (SPM/Gradiva, 2006)
– Ser Professor, coletânea de textos de Rómulo de Carvalho (Gradiva, 2006)
– Ensino da Matemática: Questões e Soluções (Gulbenkian, 2011)