Li este título e assumo que fiquei revoltado. E não é por ser professor que vou abdicar de partilhar certas falhas que o sistema tem, mesmo que vá contra o corporativismo vigente.
Vamos a factos:
Já viram quantos professores tem um conselho de turma do 2º e 3º ciclo? Entre 12 a 14 elementos
Já viram a quantidade de informação que é “despejada” semanalmente nas cabeças dos alunos?
Já viram que os alunos do 5º ano, transitam de um sistema monodocente, para um com mais de uma dezena de professores?
Já viram que há turmas, onde os alunos têm apenas 1 tarde para descansar e mesmo essa tem atividades como o Desporto Escolar?
Já viram que mesmo com uma carga letiva brutal, estes alunos levam trabalhos de casa de várias disciplinas?
Já viram que não existe uma articulação entre professores sobre a marcação dos trabalhos de casa?
Já viram que os testes são marcados por vagas e não de forma a permitir a preparação adequada dos alunos?
Já viram que os alunos muitas vezes ainda têm atividades extracurriculares depois das aulas ou mesmo explicações?
Já viram que são os alunos do 12º ano que têm a carga letiva mais reduzida?
Ainda recentemente um comentário aqui no blogue abordava a questão do desiquilíbrio horário entre as disciplinas, criando injustiças para os professores pois alguns tinham 300 testes para corrigir, enquanto outros nem 100 testes tinham. Eu vou mais longe, pois o ponto para mim é outro e poucos o referem. Existem disciplinas a mais, levando os alunos a passarem tempo demais nas escolas.
Tal acontece porque a nossa sociedade encara a escola como um depósito, sendo esta a principal responsável por toda a formação dos alunos, chegando ao ponto neste momento de substituir a formação que deveria ser dada em primeiro lugar pelos encarregados de educação, ex: a cidadania.
A nossa sociedade adaptou a escola às suas necessidades em vez de adaptá-la às necessidades dos seus alunos/filhos.
As crianças precisam de tempo. Tempo para se descobrirem, tempo para criarem, tempo para brincarem, tempo para estarem com os amigos, tempo para apenas ver o tempo passar.
Compreendo a necessidade de um ensino transversal, mas se descuramos os aspetos mais básicos da sociedade como o tempo para se ser criança, o tempo para se estar em família, que futuro teremos para estes “escravos” do conhecimento?
Alexandre Henriques
Só faltou falar do 1.°Ciclo, onde a situação é muito (mais) grave. Vícios de quem não leva a sério tão crucial nível de ensino…
Sim, mas o 1º ciclo já foi abordado noutros artigos.