Os trabalhos de casa são um tema polémico na sociedade portuguesa e a mais recente greve dos encarregados de educação em Espanha veio (re)acender essa polémica. O ComRegras tomou a iniciativa de medir o pulso à comunidade educativa, através de dois inquéritos. O primeiro mais geral e que agora é publicado, e um segundo mais pormenorizado (ciclos de ensino, etc) que ainda se encontra em processo de recolha e no qual ainda podem participar aqui.
Obrigado a todos os que participaram e divulgaram esta iniciativa.
Ficha Técnica
Universo – Indivíduos da comunidade educativa portuguesa.
Amostra – Aleatória, estratificada e representativa do universo. A amostra contém 3385 inquéritos preenchidos.
Técnica – Inquéritos online através de redes sociais e correio eletrónico, tendo como base os Agrupamentos de Escolas Públicas, Privadas e Associações de Pais. O inquérito foi elaborado através da plataforma Google, tendo o trabalho de recolha ocorrido entre os dias 3 e 13 de novembro de 2016.
Responsabilidade do estudo: Professor Alexandre Henriques
Caracterização da Amostra
Encarregado de Educação/Pais/Familiar de Aluno: 1676
Professor: 2105
Aluno: 85
Diretor: 54
Presidente de Conselho Geral: 13
Assistente Operacional/Administrativo: 74
Outro: 57
Confirma-se a dualidade de opiniões sobre a quantidade de trabalhos de casa. Se somarmos as percentagens de concordância, obtemos o valor de 53,4%, mas por escassa margem a opção mais escolhida foi o discordo parcialmente. São os professores os que mais discordam da afirmação e os encarregados de educação/pais/familiar de aluno superam os alunos na concordância de que estes têm muitos trabalhos de casa.
Sim! A generalidade dos inquiridos concorda que os trabalhos de casa melhoram o desempenho/aproveitamento dos alunos (68,2%) e são os professores os que mais concordam com a afirmação, enquanto que no outro extremo encontram-se os encarregados de educação/pais/familiar de aluno.
Mais uma vez se verifica que a opinião de professores e encarregados de educação é proporcionalmente oposta. Do lado dos pais temos uma tendência clara de subida no tempo estimado para a realização dos trabalhos de casa, enquanto que do lado dos professores verificamos o oposto. De realçar a discrepância entre professores e alunos na opção mais de 60 minutos e a proximidade na escolha entre 30 a 45 minutos. A opção mais escolhida sobre o tempo que os alunos demoram para realizar trabalhos de casa foi entre 15 a 30 minutos.
Ganhou o não pois os professores rejeitam liminarmente essa opção e foram os que mais inquéritos preencheram, mas atenção, apenas estes e os diretores rejeitam a intervenção da tutela numa posição sobre os trabalhos de casa. Os restantes membros da comunidade educativa são favoráveis à sua intervenção.
Sim, os trabalhos de casa são bem-vindos, a concordância é geral, com principal incidência nos professores. Os alunos são os que se dividem mais quanto às suas escolhas, mas mesmo assim concordam com a atribuição dos trabalhos de casa.
Consolidar, consolidar, consolidar, é a palavra de ordem na atribuição e realização dos trabalhos de casa. O sentido de responsabilidade foi a segunda opção mais escolhida, seguida por fomentar as técnicas de estudo.
A nível setorial, os professores consideram útil os trabalhos de casa para consolidar, dar maior autonomia e incutir sentido de responsabilidade, o que alunos e pais concordam mas que por sua vez incluem no seu top 3, o terminar as tarefas não concluídas nas aulas e o fomentar as técnicas de estudo respetivamente.
São os alunos os que mais se queixam da diminuição do tempo de descanso e da saturação escolar como os principais prejuízos dos trabalhos de casa. A discrepância entre estes e os professores é bastante elevada, rondando os 30%. Na globalidade temos a saturação escolar, a redução do tempo de descanso dos alunos e a falta de tempo que estes têm para passar com as famílias, como os aspetos mais negativos da atribuição/realização dos trabalhos de casa.
Tirando os alunos, a greve não está na mente da comunidade educativa inquirida.
Conclusão:
Os professores, os pais e os alunos, formam um triângulo educativo. São estes que quando em sintonia permitem atingir com maior facilidade o sucesso dos alunos. A escola tem inúmeras variáveis que geram frequentes concordâncias e discordâncias na comunidade educativa. Os trabalhos de casa são seguramente uma das variáveis que mais atritos tem causado, principalmente entre pais e professores, conclusão de quem “respira” escola há 33 anos (18 de aluno, 15 de professor e 7 de pai).
Nesta primeira parte do estudo ComRegras sobre os trabalhos de casa, ficaram visíveis as concordâncias e discordâncias do “triângulo educativo”.
Concordâncias:
Os trabalhos de casa melhoram o desempenho/aproveitamento dos alunos
Os professores devem atribuir trabalhos de casa
O principal benefício dos trabalhos de casa é a consolidação de aprendizagens
Os trabalhos de casa diminuem o tempo de descanso dos alunos
Não deve existir uma greve aos trabalhos de casa
Discordâncias:
Os trabalhos de casa são excessivos
O tempo despendido na realização dos trabalhos de casa
O Ministério de Educação deve tomar uma posição sobre os trabalhos casa
Até ao final do ano será apresentada a segunda parte deste estudo, onde entre outras curiosidades, podemos comparar os trabalhos de casa por ciclo de ensino, área curricular, se estes são ou não proporcionais e o futuro dos trabalhos de casa. Participe e partilhe 😉
Então os putos andam em aulas de 90 m e depois ainda levam TPCs que são feitos nos ATLs ou pelos pais e explicadores?
Eu há anos que não mando TPCs. Só muito esporadicamente e como um breve apontamento. Costumo perguntar, nos últimos minutos , se querem fazer o trabalho na aula ou em casa. E é vê-los a trabalhar a sós ou em grupos, tão lindos e agradecidos à sua professora querida. E a professora agradece não ter tantos trabalhos para corrigir em casa e/ou na aula, por ter tempo mais descontraído para ajuda mais individual, com um som musical em pano de fundo.
Tenho uma certa incompreensão para com os colegas que na aula seguinte ou não corrigem os TPCs (que os há), ou que veem que aquilo vem tudo feito por explicadores e mais, que ainda se dão ao trabalho de preenchimento de grelhas por dias da semana onde registam quem faz e quem não faz e os que dizem que fizeram mas que se esqueceram do caderno em casa (onde porão a cruzinha ou o check nas grelhas?!)
Já para não falar em casos de alunos mais crescidos….. o mais tardar dois dias depois, lá aparece o encarregado de educação a querer saber porque é que o seu educando só teve 10 valores num trabalho sobre Kant que até foi feito por uma explicadora conceituada de uma escola vizinha.
Concordo com a Ana a 200%. Aliás foi pensar desta forma que pautou a minha intervenção no questionário.
Fico aliviada por alguém pensar também como eu!!!
bem hajas
Muito bom. Parabéns pelo seu trabalho. As conclusões não são surpreendentes e revelam algum bom senso.
Concordo Rui.
É um tema controverso…
No 1º CEB as crianças em Portugal Continental passam demasiado tempo na sala sem terem muitas vezes oportunidade de poderem ter acesso a uma aprendizagem lúdico-didática e com uma sobrecarga horária longe de estar compatível com a sua maturidade e idade!
TPC, à hora que chegam a casa é muitas vezes uma tortura para estes e os pais.
É frequente muitas vezes os pais ne estarem preparados para conseguirem apoiar devidamente os seus filhos, devido às mudanças metodológicas.
Pessoalmente, neste nível de ensino discordo.
Mais um excelente trabalho, Alexandre.
Parabéns
Um abraço do
Augusto
Obrigado Augusto.