No ano passado nos exames de 9º ano era nº 67 e passou a 125. E pior, a escola vianense vizinha, e que é a “concorrência”, passou de 119 para 95 e ficou à nossa frente.
Podia consolar-me com coisas laterais para os fanáticos do ranking puro como percursos diretos de sucesso ou sermos uma escola que, desde 2013, supera sempre o resultado esperado no cálculo do Ministério para uma escola com o nosso contexto. Estaria bem. Mas não era rankista a sério….
A escola da “concorrência” foi aquela onde estudei. Estive para ser lá colocado há 2 anos (se a tivesse posto no concurso, em primeiro lugar, tinha ido para lá e não vinha azarar a minha atual). Às tantas foi a minha presença que azarou….E muita gente ficaria aliviado de não ter de me aturar. É capaz de ser uma explicação. Dei azar…
Os colegas da concorrência, no meio dos festejos do Ranking reconquistado, ainda vão dizer: ainda bem que não veio dar azar. O azar dos outros….
Porque estas coisas dos rankings são mágica de números, azar e sorte, alguns cálculos martelados e muito marketing para as escolas privadas. Não valem uma angústia nem um brinde.
Quando houver exames pós-covid, com a crise instalada e a falta de dinheiro para pagar mensalidades, o público vai subir e o privado descer. Basta que muitos bons alunos, daqueles que são de fabrico social e familiar, tanto ou mais que escolar, se mudem de um lado para o outro.
Mas eu tinha de me consolar da irreprimível e dolorosa perda emocional e chatice de ficar atrás da “concorrência” no ranking, e já que tanta gente martela números de rankings para tirar conclusões mais ou menos mirabolantes, eu fiz o mesmo.
9 anos é muito tempo….muitas horas, muitos dias, a examinar
Comecei por ir buscar os dados dos últimos 9 anos e construir uma tabela com eles. (A tabela 1)
Essa tabela 1 mostra a evolução de 2011 a 2019 da posição relativa (no 9ºano) da minha Escola face à concorrência direta pública (deixemos os privados em paz lá na guerrinha privada deles). Nesses 9 anos, ganhamos 5 vezes à “concorrência” e na média dos 9 anos fomos melhores (as nossas 2343 provas tiveram uma média de 3,39 e a concorrência 3,35, com as suas 1631 provas).
Irra que somos mesmo bons!
Mas não chega …4 centésimas é pouco. E ganhamos só uma vez mais que eles. Um rankista acha pouco…..A nossa excelência tem de cilindrar, não pode ficar em centésimos. Ganhar uma maratona por 4 centésimas. É pouco para nós, tão bons que somos.
Tabela 2 – a felicidade de um rankista empenhado
Com os dados da tabela 1 construí a tabela 2 que foi uma orgia de felicidade rankista. Lá estão as nossas 5 vitórias no campeonato paroquial.
Nos 9 anos, a média mais alta foi nossa (3,65 contra os 3,61, deles). Pouco ….4 centésimas. Mas a média mais baixa dos 9 anos foi deles … E sempre são duas centésimas….raios.
Eles tiveram a maior margem de superação do resultado esperado verificada nos 9 anos. Mais 4 centésimas que a melhor nossa. Em todos os anos nos superamos (quando há dados de valor esperado) mas a pior superação deles é muito mais baixa que a nossa (0,13 para 0,32).
E, até babei neste percurso de consolação rankista…eles tiveram num ano média abaixo de 3 e nós nenhum. Em dois anos dos 9 passaram o nível 4 uma vez e nós em 3. Somos mesmo fixes…..
O lugar mais alto que atingimos foi 67 e eles só 80. E quando baixamos não fomos abaixo de 139, mas eles já afundaram para 257. Somos bons ou não somos? E que graça tem analisar um ano só, quando temos 9 ou mais para sujeitar com tratos de polé? Para o ano, quando formos os “melhores excelentes” outra vez, eles que façam as contas e vão ver como somos ainda melhores. 10 anos, então até vai dar para cantarolar….
Mas não, não somos bons, nem deixamos de ser, porque números assim analisados de 9 anos de sobe e desce num dado parcial e limitado (e não, não sou contra os exames nem contra bons resultados escolares….) não valem mais que o número de 1 ano de queda (queda, que paródia fora, não me chateia nada, porque vale tanto para análise pedagógica e organizacional como as subidas….isto é, nada).
Estas brincadeiras em tabela fi-las porque só queria mostrar a irrelevância desta mágica dos números. E brincar com isto que é a única coisa que se pode fazer ao ver os risíveis Queiroz e Melo destes dias.
A única coisa que este exercício prova é que também sei usar uma folha de excel, mas estes números todos nada dizem sobre a qualidade de uma escola, que não passa por isso.
Nem os colegas da concorrência pública vizinha passaram a ser melhores professores por a escola estar um ano num melhor lugar do ranking, nem nós passamos a ser piores. E sobre os alunos estas traquitanas rankistas de contas também dizem pouco. Nem contando 1 ano, nem contando 9.
Eu brinco sempre com o “meu record a piorar” no dia em que saí de professor na escola privada que nos emparelha no ranking para uma meia hora depois, passar a ponte sobre o Lima, ir tomar posse como diretor na escola que estava uns 800 ou mais lugares a baixo. Piorar umas 800 vezes em meia hora é obra, até para mim e o meu mau feitio.
Acho que algumas conclusões que os fanáticos dos rankings tiram sobre correlações, convenientes ao marketing privado, têm mais a ver com a realidade social (que os colégios não mostram e, por isso, não aparecem no ranking com dados de contexto) ou, se quiserem continuar na paródia, com o número de dores de barriga no dia do exame.
E, no caso vianense, dei aulas 2 anos em cada uma das escolas públicas e 4 na escola privada que andam na “guerrinha paroquial do ranking”. Entenda-se, que partilham entre si os 3 primeiros lugares na maioria dos rankings concelhios de 9º ano.
Alguma coisa sei do real que vivenciei e digo-vos que os números rankistas valem zero para conhecer o real com rigor. Para o bem ou para o mal.
Comprar uns ponta de lança
Na tabela 3 faço um exercício hipotético. Vamos imaginar que, em cada ano, uma das escolas públicas da nossa parelha concorrencial vianense recebia em transferência da outra 5 alunos que tiravam nível 5 nas duas provas consideradas.
Que, num ano, eram 5 a mais nessas condições num lado, para 5 a menos no outro. Isto é, que efeito tinham 5 alunos de nível 5 adicionados numa das escolas e retirados a outra?
Esses 5 alunos seriam uns 2 a 3% no total de provas de cada ano das duas escolas somadas. Mas que efeito teriam esses 2 a 3% na opinião que se iria tirar sobre os outros todos e sobre as escolas por via do ranking?
Na situação em que a nossa escola (Abelheira) perdesse 5 alunos de 5 continuava a ser primeira da paróquia na média dos 9 anos por 8 milésimas, mas só seria primeira em 3 anos de cada um dos 9 anos e empatava 1.
Na situação em que a concorrência (na tabela Frei) perdesse os 5 alunos e a Abelheira os ganhasse, este ano de 2019 empatava com 3,55 de média e era primeira em 7 dos 9 anos.
Por isso o que eu digo é ….em vez de se chatearem com muitas medidas por terem descido no ranking, os fanáticos dos rankings o que tem a fazer é ir à concorrência e, entre os alunos, de 6º ou 7º ou até 8º arranjar 5 ou 6 de muito boas notas (tudo 5), treiná-los bem até ao 9º ano (por no passe de transferência condições excecionais de acompanhamento para esses 5). Se vierem no 8º ano, é melhor porque é mais cruel na guerrinha do ranking….Eles os formam e nós os capitalizamos para o ranking…..O que, mais uma vez, mostra o valor desta treta para avaliar uma escola….
Deixando tudo o resto na mesma, vamos ficar à frente da concorrência. 5 alunos carregadinhos de explicações e afortunados e a escola “passou a ser melhor”. É isto que interessa numa organização com 1200 alunos?
Como é que algo de que se pode fazer um conjunto de raciocínios abstrusos como estes todos, que faço aqui, pode ter algum valor como instrumento de gestão e análise? Acho que certos jogos de fortuna e azar são menos aleatórios que o ….”Veja em que lugar ficou a sua escola….”
PS: Este texto pode chegar aos colegas da “concorrência”. Espero que não levem a mal a paródia. Aliás, foi escrito para vir a ser público. Eles conhecem-me e conhecem a minha mordacidade, perante certo tipo de presunções de sucesso e excelência. Dei aulas lá durante 2 anos. E fui aluno outros 2. E, se no meu tempo houvesse rankings, podia ser um dos do grupo de 5 que ía mudar o ranking só por estar num lado ou noutro. E essa minha experiência pessoal nos resultados escolares é indissociável do que penso de rankings ou prémios de mérito e “xelência”. Muita gente já me disse que sou contra essas coisas porque quase de certeza tive falta de mérito escolar. Olhem que não, olhem que não….?
Falas de Viana eu podia falar o mesmo da minha cidade. É exatamente assim o panorama é o mesmo que apresentas.
No fundo o que me entristece é a opinião dos profissionais da Educação, os outros passar-me ao lado.