O que pensam os Diretores e os Presidentes de Conselhos Gerais sobre questões pertinentes da escola portuguesa? O ComRegras quis saber a sua opinião, sem filtros, sem intermediários e com a liberdade que o anonimato lhes confere.
Ficha Técnica
Universo – Diretores de Agrupamentos e Presidentes de Conselhos Gerais de Escolas Públicas.
Amostra – Aleatória e representativa do universo. A amostra contém 312 inquéritos preenchidos, 181 (58%) por Diretores de Agrupamentos e 131 (42%) por Presidentes de Conselhos Gerais.
Técnica – O inquérito foi realizado através da plataforma de formulários Google, tendo o trabalho de recolha ocorrido durante o mês de julho de 2016.
Responsabilidade do estudo: Professor Alexandre Henriques
Resultados
O modelo de gestão em vigor é uma questão claramente fraturante, se dois terços dos Presidentes de Conselhos Gerais prefere um modelo Colegial, os Diretores de Agrupamentos optam, embora por uma pequena margem, por um modelo Unipessoal.
Mais de 70% (72,8) dos Diretores e Presidentes de Conselho Gerais, preferem um método colegial para a eleição do Diretor de Agrupamento. É uma clara rejeição do atual modelo onde o Diretor é eleito pelo Conselho Geral. De referir que 35,6% gostaria de ver os representantes dos encarregados de educação incluídos no processo de eleição.
A rejeição do atual processo de municipalização escolar é evidente para ambos os inquiridos.
É uma ambição antiga a dos Diretores dos Agrupamentos de terem um calendário escolar dividido em dois semestres e que se mantém nos resultados deste inquérito. Porém, os Presidentes de Conselhos Gerais, apesar de concordarem com a necessidade da revisão do calendário escolar, não preferem a opção dos dois semestres.
A carência por uma maior autonomia escolar fica expressa mais uma vez. Podemos constatar que ambos os inquiridos concordam com a afirmação, os Diretores dos Agrupamento vincam mesmo a sua posição com uma concordância total a rondar os 60%.
No próximo mês, o Ministério de Educação irá rever o modelo de concurso de professores. Nas preferências dos Diretores de Agrupamentos, existe um claro empate técnico entre a escolha da colocação de professores por parte da tutela ou através das escolas. Os Presidentes de Conselhos Gerais não deixam margem para dúvidas quanto à sua opção – a contratação de professores deve ficar a cargo do Ministério de Educação.
À semelhança da questão anterior, os Diretores estão divididos sobre a política de limitação de mandatos. Porém, a grande maioria dos Presidentes dos Conselhos Gerais concordam com essa limitação.
Indo ao encontro da legislação vigente, ambos os inquiridos concordam que a retenção deve ter caráter excecional.
Sobre os pontes fortes e áreas a melhorar nas escolas dos inquiridos, são os Docentes o ponto mais forte, seguido do Orgão de Gestão e Alunos. No outro extremo, temos os Resultados Escolares, a Disciplina e as Infraestruturas como as principais áreas a melhorar nas suas escolas.
Nota: não deixa de ser relevante a proximidade de opiniões entre os Diretores/Presidentes de Conselhos Gerais e Encarregados de Educação sobre os pontos fortes e fracos das escolas públicas portuguesas. No passado estudo ComRegras – (in)Disciplina na Família, a Competência dos Professores/Educadores foi o elemento que os Encarregados de Educação mais referiram como o que mais gostavam na escola do seu Educando e as Infraestruturas e Indisciplina como os elementos que menos gostavam.
Numa vertente mais pessoal, foi perguntado aos Diretores e Presidentes de Conselhos Gerais se consideravam o seu trabalho reconhecido/valorizado. Sim, este é reconhecido pelos diferentes elementos da comunidade educativa, sendo os docentes aqueles que na sua opinião mais o reconhecem.
No lado oposto, verificamos que os inquiridos não sentem reconhecimento e valorização do seu trabalho por parte do Ministério de Educação e Sindicatos. E 22,4% afirmam mesmo que não sentem que o seu trabalho é reconhecido/valorizado por nenhuma das entidades referidas.
Conclusão
O modelo de gestão, a municipalização escolar, a autonomia escolar e o calendário escolar, são questões muito importantes e que este estudo mostra que os principais membros da comunidade escolar – Diretores de Agrupamentos e Presidentes de Conselhos Gerais – não estão de acordo com o rumo que está a ser seguido. Outras questões como a limitação de mandatos, a contratação de professores e a retenção com caráter excecional, têm a concordância dos inquiridos.
Os resultados escolares e as questões disciplinares continuam a ser o principal motivo de preocupação dos Diretores de Agrupamentos e Presidentes de Conselhos Gerais. De realçar que mais uma vez, as questões disciplinares surgem no topo das preocupações. Apesar da sua relevância para quem está no terreno, este é assunto que só é referido quando a desgraça bate à porta da Escola Pública. No estudo realizado no ano passado pelo ComRegras sobre Indisciplina Escolar, foram apresentadas uma série de propostas que acredito que de forma célere e eficaz, iriam reduzir não só os níveis de indisciplina como seguramente potenciar o sucesso escolar.
Todos estamos cientes das restrições orçamentais, mas estas não podem justificar por si só a política de escola pública “low cost” que tem vigorado há já demasiado tempo. Existem questões que não são só financeiras, são políticas! É preciso ouvir a comunidade educativa e neste caso em particular os Diretores e Presidentes de Conselhos Gerais. Não faz sentido ter uma escola pública liderada por pessoas que discordam em matérias determinantes para o seu futuro.
Não é por isso de estranhar que apenas 8,3% de Diretores e Presidentes de Conselhos Gerais sintam o seu trabalho reconhecido/valorizado pela tutela. São valores que deviam envergonhar e fazer refletir profundamente os visados. Quem não se sente reconhecido/valorizado, não se sente ouvido… e os dados deste inquérito se mostram alguma coisa, mostram que é preciso ouvir quem está no terreno e dá a cara todos os dias.
E o que pensam os professores, os pais e os assistentes operacionais sobre estes assuntos? A são tempo saberemos 😉
Bom estudo e muito interessante nos diferentes tipos de resultados. O vosso site tornou-se num barómetro imprescindível para quem quiser “medir o pulso” da Educação em Portugal. O vosso trabalho é um serviço público que os serviços ministeriais, arrecadando o dinheiro dos contribuintes, deviam fazer e não fazem ou divulgam com anos de atraso ou só divulgam o que interessa ao poder… Aprecio também o pluralismo de opinião que mantêm no site, não deixando de ser ao mesmo tempo claro o que defendem, com todo o direito. Nem sempre concordo , mas o contraditório, sendo (devidamente e na minha opinião muito bem) acautelado o comedimento dos comentadores, é apreciado pelos administradores do site, o que é o mais importante. Bom ano letivo e continuação de muito sucesso para o vosso site!
Muito obrigado Maria Silva pelas suas palavras. Esperamos continuar à altura das expectativas 😉
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54.1% dos 181 directores que responderam ao inquérito concorda que o ano escolar seja organizado em dois semestres e não nos habituais três períodos de aulas. Quanto aos presidentes de Conselhos Gerais, 32.8 % defende a organização em semestres ainda que 41.2% afirme ser necessária uma revisão do calendário escolar. Algumas notas sobre os tempos da escola.
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http://atentainquietude.blogspot.pt/2016/09/os-tempos-da-escola.html
Curioso como a municipalização da educação surge agora como a panaceia que outros descobriram há 30 ou 40 anos atrás.
Eventualmente, andaremos outro tanto para descobrir a sua inutilidade.
Leiam, que vale a pena…
https://escolapt.wordpress.com/2016/09/06/leituras-a-municipalizacao-da-educacao/