Se não era ajustado não o deviam ter incluído, mas se o incluem então que o assumam na sua plenitude.
Um manual escolar de língua portuguesa do 12.º ano publicado pela Porto Editora e aprovado pelo Ministério da Educação inclui uma versão censurada do poema “Ode Triunfal”, de Álvaro de Campos, noticia este domingo o jornal Expresso.
De acordo com o semanário, que mostra duas páginas do manual — intitulado “Encontros” e feito por Noémia Jorge, Cecília Aguiar e Miguel Magalhães, com revisão científica de Maria Antónia Coutinho —, o poema do heterónimo de Fernando Pessoa aparece com três versos cortados, substituídos por reticências.
Os versos em causa são: “Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas” e “E cujas filhas aos oito anos — e eu acho isto belo e amo-o! — / Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada”. O poema na íntegra pode ser lido aqui, no arquivo da obra de Fernando Pessoa.
Segundo o Expresso, este é um livro utilizado em várias dezenas de escolas por todo o país. A informação chegou precisamente de uma dessas escolas, onde os alunos escutaram uma gravação do poema na íntegra enquanto acompanhavam a leitura no manual e notaram os versos omissos no livro.
Contactados pelo Expresso, nem a Porto Editora nem o Ministério da Educação deram para já esclarecimentos. A editora disse àquele jornal que terá de confirmar a situação e contactar os autores, remetendo explicações para a próxima semana.
A poesia de Fernando Pessoa, incluindo os heterónimos, faz parte do programa de língua portuguesa do ensino secundário, cabendo ao professor a escolha dos poemas a estudar.
Fonte: Observador
Os senhores que fazem programas teriam andado bem se não tivessem incluído este poema.
Tenha juízo! Pelo que afirma, também deveriam retirar do programa de português do ensino básico (9.º ano) o estudo do “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente, pois a personagem do Parvo diz palavrões a torto e a direito.
O poema “Ode Triunfal” é incontornável no estudo de Fernando Pessoa, nomeadamente no seu heterónimo Álvaro de Campos. Este poema permite conhecer e perceber a sociedade lisboeta da época e tudo o que a Revolução Industrial trouxe (de bom e de mau).
Acha que os alunos não sabem o que são putas? Ups! Desculpe, deveria ter usado a palavra meretriz. Acha que não sabem o que é a masturbação? Ou ficou chocado por Pessoa mencionar que, na Lisboa do final do séc. XIX e início do séc. XX, haviam meninas que masturbavam homens e que isso faz com que nos questionemos sobre eventuais atos pedófilos nessa época? Enfim, …
Lamentável o seu comentário! Mais lamentável ainda quando vem de um diretor de um agrupamento de escolas.
Um dos mais notáveis poemas de sempre, de toda a Língua Portuguesa… Nenhum tipo de censura muito menos numa obra-prima.
Sobre isto há uma frase, célebre, que deve ser o principio destas coisas e da Democracia:
“Não concordo com o que dizes mas defenderei até à morte o teu direito de o dizeres” (Voltaire).