Só quem andar muito distraído nos últimos anos em Portugal é que nunca ouviu falar de Afonso Cruz. Um nome de um português. Um nome de um escritor. Um nome de um génio.
Quase a rivalizar com o impacto de tal nome está o título desta obra que deixa qualquer um curioso e torna a leitura deste livro obrigatória – “Jesus Cristo Bebia Cerveja”.
A sinopse do livro explica tudo, ou talvez não…
“Uma pequena aldeia alentejana transforma-se em Jerusalém graças ao amor de uma rapariga pela sua avó, cujo maior desejo é visitar a Terra Santa. Um professor paralelo a si mesmo, uma inglesa que dorme dentro de uma baleia, uma rapariga que lê westerns e crê que a sua mãe foi substituída pela própria Virgem Maria, são algumas das personagens que compõem uma história comovente e irónica sobre a capacidade de transformação do ser humano e sobre as coisas fundamentais da vida: o amor, o sacrifício, e a cerveja.”
Esta é uma história simples e complexa. Repleto de personagens caricatas, o livro “Jesus Cristo Bebia Cerveja” acompanha o leitor numa visita ao Alentejo rural, a uma pequena aldeia isolada do resto do mundo onde ainda se cuida dos afectos e se olha para dentro das pessoas.
Esta é uma história ternurenta de uma neta que tudo faz para concretizar o grande sonho da sua avó. É ternurenta pela sua preocupação, pelo seu entusiasmo e pela solução encontrada para permitir que aqueles olhos gastos pela vida pudessem ver a Terra Santa, Jerusalém.
Esta é uma história curiosa, ou não habitasse nas suas páginas uma inglesa rica que quer ter o mundo todo dentro de si.
Esta é uma história irreverente por apresentar-nos um professor inconformado, dono do seu saber que encontra na neta e na avó uma tábua de salvação.
Esta é uma história em que o leitor descobre que, afinal, Jesus Cristo bebia cerveja.
Um livro à superfície simples mas que a cada camada nos revela os receios, defeitos e virtudes de cada personagem.
Mas se a trama de “Jesus Cristo Bebia Cerveja” é única, a escrita de Afonso Cruz é fenomenal, para dizer pouco. Cada parágrafo tem a particularidade de fazer parte da história e simultaneamente consistir numa história em si mesma. Perdi a conta às frases que anotei para mais tarde rever.
São livros assim que nos deixam divididos: dão-nos alento ao percebermos que Portugal pode contar (ou melhor, já conta) com mais um talento que ficará para a História da literatura, mas que ao mesmo tempo fazem-nos sentir uma nulidade por percebermos que tal talento apenas está reservado a alguns.
Resta-nos então ler este livro, ler todos os outros de Afonso Cruz e aguardar pelos que virão.
Por Mariana Oliveira
Texto original publicado em : http://flamesmr.blogspot.pt/2014/02/livro-jesus-cristo-bebia-cerveja.html