“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.”
Nelson Mandela
“A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida.”
Sêneca
Sei que sou apenas uma professora, mas também sei que é necessário sermos capazes de opinar sobre o que sabemos fazer melhor. Assim resolvi partilhar as ideias sobre o que entendo para uma escola mais saudável para todos. Começo pelo ponto que considero ser o primeiro a mudar, a gestão.
Esta gestão não funciona de todo. Basta conhecer algumas situações para se perceber que a prepotência é uma das características e, desconhecendo a sala de aula, gere-se a escola como uma empresa ou fábrica. Não estamos numa linha de montagem ou apenas a apertar parafusos, por isso é tão desproporcional gerir a escola como se gere outro organismo. A escola sempre foi diferente na sua organização, na sua missão específica, na heterogeneidade dos vários intervenientes, na subjectividade de realizar as incumbências específicas. É por tudo isto e muito mais que outra facada dada nas escolas foi a avaliação docente, que tenta quantificar o que nunca poderá ser quantificável pois ensinar é um ministério personalizado, subjectivo e pessoal. Mais uma vez aplicar às escolas modelos que servem outros organismos é provocar o caos, é acabar com o companheirismo tão necessário ao bom funcionamento de um estabelecimento de ensino. O espírito colaborativo e de partilha é essencial à alma de uma escola viva. Se apenas se fomenta a competitividade entre pares, morre a mística de ser professor, nesta sublime extensão das nossas emoções e sentimentos para os conhecimentos fundamentais aos futuros cidadãos. Somos fazedores de mentes e de sonhos, somos poetas dos corações inquietos, somos filósofos dos espíritos argutos, somos os professores da essência de um país.
Como professora que conhece na prática de mais de três décadas, um e outro modelo de gestão e, em várias escolas, continuo a considerar o anterior modelo de gestão democrática, mais justo, ético e capaz de propiciar um bom ambiente de trabalho e vontade de entrega maior de todos os agentes da acção educativa. Sempre houve os mais e menos capazes, mas também houve a certeza que seriam alvo de escrutínio, não pelos ‘eleitos’ de um C. Geral, mas pelo corpo docente e não docente da escola. Uma gestão democrática será porventura a maior e mais importante mudança que urge implementar.
As escolas não são empresas ou fábricas, não estão numa linha de montagem, não apertam parafusos, nem atendem X ou Y telefonemas, não devem ter um gestor, devem ser conduzidas como sempre foram, por professores sempre a exercer, com pelo menos uma turma, para nunca perderem a noção da sala de aula e da verdadeira função de uma escola.
E se a avaliação docente mais a nova gestão encomendaram o caixão, a componente não lectiva marcada no horário pagou o funeral que se avizinha. São inerentes ao exercicio da profissão, e em muito maior número do que as que são marcadas no horário, as horas não lectivas. Acontecem fora do horário, pela noite dentro, aos fins de semana e em detrimento de família, descanso e lazer, não por serem registadas ou pagas, mas porque são necessárias ao trabalho individual de todos os docentes e em prol dos seus alunos. Não precisamos de mais tempos na escola além dos lectivos. Acabar com as burocracias é caso de vida ou morte na nossa árdua missão. Estas serão porventura as maiores e mais importantes mudanças que urge implementar, a bem da educação, das escolas, dos alunos, do pessoal não docente e dos docentes, nomeadamente da sua sanidade mental. Um professor são e feliz, tem alunos felizes e capazes. Eu acredito que é possível tudo isto, só é necessário que haja vontade de quem governa e que seja a educação uma prioridade.
“Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”
“O educador se eterniza em cada ser que educa.”
Paulo Freire
Maria do Rosário
Professora
Muito bem, colega. Já foi tudo dito, vezes sem conta, de forma pertinente, por muita gente rigorosa, objetiva e sensata. Simplesmente quem tem o poder nas mãos teima em não atender a razões porque isso não lhe custa caro. “Tão ladrão é quem vai à horta como quem fica à porta”. Costa é um bom sequaz do indiferentismo inventado por Sócrates.
O desacerto é tão gritante que a única explicação possível é, a destruição da escola pública, e por arrasto dos seus agentes-os professores, fazer parte de um plano mais amplo maquinado por lobistas infiltrados com motivações inconfessáveis. De outro modo seria impossível permanecer impassível perante o desastre iminente que é a derrocada da escola pública, berço da civilização. “Para que o mal triunfe basta que os bons fiquem de braços cruzados” Edmund Burke ou “O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer” Albert Einstein.
Acumulam-se evidências que exigem um reflexão rigorosa e corajosa. A escola precisa de assumir o conhecimento como prioridade e este exige rigor, avaliação, tempo e tudo o que já foi referido pelas professoras.
A educação vive uma crise profunda e não se agitem estatística de sucesso quando os níveis de iliteracia são tão preocupantes. Esconder ou ignorar só pode piorar as coisas.
A questão é mesmo saber se haverá coragem ou se o debate permanecerá estritamente ideológico.