Ao contrário do que julgam muitos dos mais simpáticos colegas que comentam por aqui, não reclamo na questão da educação à distância por causa de qualquer busca de protagonismo.
Como não sou rico, nem influente, a única coisa que garante a minha vida, como cidadão livre de uma Democracia, é haver Lei e preservar-se a sua validade.
Estar caladinho e quieto seria muito mais favorável à minha “vidinha” imediata. Há súbditos e há cidadãos.
Ainda há quem se mobilize por ideias de mais longo prazo que a “vidinha” e uns trocos. E haveria muitas formas de ter protagonismo, para lá de receber tantos insultos, como tem acontecido.
Mas não estou preocupado com isso. Vamos então por partes.
A posição (com base legal e lógica)
1.Decidi não ceder o meu computador ao Estado, para usar na educação à distância. Já conheço o argumento de alguns: “deixaste até agora.”
Pois, mas imaginem que estavam desalojados e me vinham pedir um quarto vago emprestado.
Até podia emprestar o MEU quarto vago para a emergência. Quem me conhece bem, sabe que sou generoso.
Mas, ao fim de 11 meses, começava a pensar em cobrar renda ou até mandar o parasita porta fora.
Especialmente, se começasse a perceber que, fiado numas balelas pseudoéticas de solidariedade, que me queria impor, embora tivesse meios, não se mexia para resolver o seu problema.
Assim, neste dia 1 de Fevereiro de 2021, cessam os meus empréstimos de computadores e net ao Estado.
O Estado até pode vir a requisitá-los legalmente, invocando o interesse público, mas tem de o fazer, legalmente e na devida forma, compensando.
Como faria se requisitasse meios hospitalares privados que têm muito mais interesse público, neste contexto presente, que o meu computador.
Ou alguém acha que as requisições de Hospitais privados seriam de graça? E o uso que já se está a fazer desses meios privados não está a ser pago?
A lei que vincula o Estado e que me dá razão
2.E ter razão não interessa?
Assim sendo, a minha recusa em consentir ceder os MEUS meios, que eu paguei com o MEU salário, longos anos esfolado, obriga o Estado a fornecer os meios para que possa trabalhar ao seu serviço, como manda a Lei, que fez para todos os setores e impôs aos privados, sob pena de os multar.
3. O Estado devia fornecer-me um computador para trabalhar. Como é de Lei.
Se o fizer, eu fico em casa e fica tudo bem.
Se alguém diz que sou “traidor à Pátria”, por tentar fazer cumprir esta lei, só recordo que o nosso Primeiro Ministro e a Ministra da Saúde já insinuaram que titulares de cargos públicos eleitos o seriam por os criticarem. Não estarei sozinho no sofrer do insulto.
Se o Estado entregar o material para trabalhar (isto é, o Governo cumprir a Lei que fez), coloco aqui uma foto. E explicarei o meu ponto sobre isso.
Fornecer computador ou compensar o uso do meu, de alguma forma (a negociar com as organizações sindicais) são as únicas soluções legais para este problema.
A solução coativa: “vai apanhar Covid!”
4. Parece que nas delegações da Dgeste andam com ideias de mandar “fazer teletrabalho no local de trabalho”.
A lógica e a gramática nunca foram o forte de certos burocratas.
“Não está satisfeito com o esbulho, vá para a escola”… Como repetem alguns colegas, com patente prazer de mandar o rebelde arriscar a saúde. (E depois falam de “unidade solidária”….)
5.Alguém vai ter de escrever essa ordem e FUNDAMENTÁ-LA. E, sendo essa a ordem, para gáudio de tantos colegas que não querem lutar pelos seus direitos legais, mas se alegram que quem luta seja “punido”, IREI.
Podia alegar o direito de resistência (dado a ordem ser ilegal), mas vou cumprir.
Dia 8 cumprirei a ordem, se a derem, e lá estarei frente a um machimbombo informático, com 13 anos e software jurássico, a tentar ajudar os alunos.
Os alunos merecem mais? Sim.
Mas foi isso que o Estado pagou. E eu não tenho de me substituir ao Governo.
Quem vai sofrer mais: eu, que vou ficar na escola, ou quem der a ordem?
6.Pois claro que vou para a escola. Indo, concretiza-se a violação da lei do teletrabalho, das regras de confinamento, do estado de emergência e um risco imediato para a minha saúde e para a saúde pública.
Afinal, não era para estarmos todos em casa?
E alguém me pode obrigar a ceder o meu computador? (Só porque uns quantos deram em achar que o meu portátil tem de ser patriota?).
Não minto, porque realmente tenho um, e se não o tivesse, por não ter dinheiro? Ou avariasse? (Como é velhote, creio que a menção de que o vão recrutar anda a enfraquecer-lhe as placas….)
Ou se tivesse de o destinar a um filho? “Não tem dinheiro, vai de castigo arriscar-se?”
O fim da novela… Tenha eu saúde!!
7.Estão a ver o que vou fazer a seguir?
Os dirigentes do Estado são pessoalmente responsáveis pelos danos que as suas ordens ilegais e abusivas causam e pelas ilegalidades que cometem (para mais colocando outros em risco).
Já há advogado de sobreaviso. E há mecanismos legais para reagir. Alguns bem expeditos.
Espero que quem der a ordem, se persistir, vá estudar bem o direito aplicável e reze muito pela minha saúde (eu não sou crente, mas mal não faz) .
Houve uns que fizeram greve de fome. Eu farei isto que descrevi.
Acho que corro mais riscos de apanhar covid do que eles correram de ficarem desnutridos.
E não é um movimento coletivo. Faz quem quer.
E eu quero fazer assim.
Por mim, e também pelos alunos, que precisam mais de quem lute por que se cumpra a Lei do país, de que uns dias de aulas, que sempre podem ser supridos, havendo meios (e, afinal, estão 2 semanas sem elas, porque o mesmo Governo, que critico e verbero, assim decidiu, apesar de filintamente alguém andar a garantir “que estava tudo pronto”).
E já sei que na comunicação social ninguém vai ligar. Por isso, protagonismo, estamos falados.
Olhares diferentes no servir a Pátria
- A Pátria é mais bem servida por quem cede a sua propriedade, sem reclamar, ou por quem luta pela aplicação da Lei e do Estado de Direito, que regula e estrutura a mesma Pátria?
- Alguém me pode obrigar a disponibilizar o que é meu, sem compensação?
- Coagindo-me a correr um risco de saúde, se não o fizer?
- A Lei é o quê?
- O país deixou de ser uma República, baseada na Lei e no Estado de direito, com respeito pelo princípio da Igualdade e do Direito de propriedade, e passou a ser uma agremiação de “voluntariado forçado sem formalidades prévias”?
Para a passarada tonta que vai responder a isto, encharcando os posts com os argumentos estafados do costume, informo 2 coisas… Cuidado com os insultos: para mim “estúpido” ou “traidor à pátria” são insultos (mesmo escritos disfarçadamente). O pior de todos é dizer que sou mau profissional, por causa desta posição, que acho que fica aqui clara.
Se tiverem dificuldade em entender o alcance final da posição, só saliento esta distinção: há o bem do Governo e o bem do Estado.
Disfarçar a falta de computadores é fazer bem ao Governo e muito mal ao Estado.
E sou servidor do Estado (e do Povo Português), não do Governo e do seu interesse em ocultar a sua incompetência flagrante.
Tiro-te o meu chapéu! Excelente post.
Estou cansada de ouvir que temos de “alinhar” por mil e um razão…cada um sabe o que quer dar e pode dar de si,agora não venham com a moral de que só porque alinham,todos têm de o fazer…cada vez mais os direitos que tinhamos como garantidos estão a desaparecer e o comodismo arrasta nos para um poço sem fundo…é bom haver quem ainda não desistiu de lutar !
Luís, não podia estar mais de acordo!! Também eu lá estarei na escola em frente ao HP de 2009 a tentar ajudar os alunos. O meu material informático não estará mais disponível para serviço gratuito. E já o digo desde Agosto.
Ouvi falar de uma petição que ainda não assinei pois não sei onde se encontra. Assinarei logo que a encontre!
Grande abraço e força nesta nossa luta.
Caro colega, subscrevo na íntegra a sua posição. Já informei que volto à escola para usar os meios lá disponíveis, machibombos ou não, com mais ou menos net, o que houver… Ninguém perguntou sobre os professores de escalão A ou B, também os há… Apenas ouvi nas notícias que as “Escolas estavam preparadas”, vezes a fio, sem que ninguém tivesse questionado a disponibilidade dos docentes para ceder o seu material, se é que o têm. Fico indignada com tal assunção sobretudo quando, após a “primeira temporada”, muitos pais e investigadores universitários apenas salientaram nos media que fizemos mau trabalho e que não temos formação. Em 25 anos de trabalho, recebi 5 máscaras comunitárias. Pago todos os materiais de trabalho (computador, livros, cadernos…pago a minha formação, faço-a fora da jornada de trabalho e fico “congelada” na minha progressão porque faço parte de uma classe numerosa. Trabalho mais horas que no início da profissão, estou num escalão inicial da carreira e “oferecem” publicamente os meus materiais sem que ninguém me pergunte se estou disposta a isto? Trabalharei sim, na escola. Isto é ser má profissional? Um professor deveria ter coluna vertebral, humildade, dignidade e respeito por si mesmo para poder ser respeitado.
Brilhante!
Desconheço é qualquer posição sindical (e por posição entendo acção legal). Estamos, como sempre, desamparados.
Olhe Luís, é de enaltecer a sua coragem e frontalidade! Bem haja pelos argumentos justíssimos a que recorre e não se deixe frustrar por pseudoprofissionais de meia tigela. Esta é uma classe sem espinha dorsal, todos sabemos disso e, por isso, somos tão facilmente manipulados! O mais interessante é constatar este tipo de democracia que se vive nestes tempos estranhos….
Completamente de acordo; penso da mesma forma.
Parabéns pela sua exposição.
A bem dos alunos e do país, seria bom que todos tomassem a mesma posição e atitude.
Obrigada
Perpétua Alves
Vou fazer exatamente o mesmo, aliás, já tinha avisado os alunos logo em 21 de janeiro.
O meu computador e a minha internet são para a minha filha, que está no 12º ano e precisa de meios com qualidade.
Excelente! Parabéns pela insistência! Quem corre, sempre alcança!
No meu caso, o que me preocupa mais não será a cedência do meu computador mas sim o facto da minha filha de 5 anos (ainda no pré-escolar) ser “abandonada” dentro de 4 paredes e haver recusa total das educadoras em ter contacto online (contar uma história, conversar, perguntar…). Não peço muito até porque tem apenas 5 anos. Mas um contacto diário de meia hora, será assim tão difícil de concretizar? Eu não sou educadora e prezo muito o trabalhado realizado no pré-escolar, mas parece que as próprias educadoras não o têm assim tanto em conta.
Não sei qual é o seu agrupamento, mas no agrupamento em que trabalho as educadoras vão estar em teletrabalho como qualquer colega de outro ciclo de ensino! Com planificações, “aulas” síncronas e assíncronas! Talvez fosse bom informar-se um pouco melhor junto a quem de direito!
Maria Silva, antes de mais obrigada por me ter respondido.
Fico feliz por saber que as crianças mais pequenas não foram esquecidas/abandonadas em todas as escolas. Já questionei a direção do agrupamento e coordenadora de departamento do pré-escolar. Simplesmente não querem. Foi o que me foi dito de forma oficiosa!
E assim, a minha filha irá estar à mercê da TV enquanto os pais e irmão estão em teletrabalho e em interação com outras pessoas fora do seio familiar. Ela irá interagir com a TV e como estamos em teletrabalho e somos “essenciais”, a única alternativa é abandoná-la numa escola de acolhimento onde não conhece nem professores, nem auxiliares, nem os restantes alunos.
A única coisa que peço é uma pequena interação com a professora e restantes colegas, na perspetiva de não perder o vínculo com a escola, amigos e outros adultos.
Uma vez mais, obrigada pelo seu feedback.
Este sim é Colega, já a maioria que por ainda anda são mais a Madre Teresa de Portugal
Absolutamente de acordo! Requisitei um portátil na escola. Mas se não o disponibilizassem também iria para lá.
Notar apenas que a maioria dos computadores que faltam às escolas só foram comprados/encomendados no final de dezembro. Caso a pandemia não se agravasse nem sequer seriam comprados.
Vai partilhando os novos desenvolvimentos.
Mesmo os insultos deves partilhar connosco!
Não sei qual é o seu agrupamento, mas no agrupamento em que trabalho as educadoras vão estar em teletrabalho como qualquer colega de outro ciclo de ensino! Com planificações, “aulas” síncronas e assíncronas! Talvez fosse bom informar-se um pouco melhor junto a quem de direito!
Caro Luís,
Já tinha feito uma série de comentários no Facebook de Professores como deve ter reparado e a sua exposição vai completamente ao encontro do que digo, penso e que não tenho medo de demonstrar também.
Leis são leis e são para cumprir. Não só pelos cidadãos, mas também pelos governantes (e não esqueçamos que o exemplo vem de cima).
Eu, por mim, faço minhas as suas palavras e mantenho a minha posição.
Já uso os meus computadores para realizar atividades musicais e multimédia em casa (dados que os HPs da Escola não suportam devidamente os softwares para as atividades que desenvolvo). E já muito faço eu. Portanto não me venham exigir que dê mais do meu património completamente pago por mim e onde o Estado não me deu um cêntimo (antes pelo contrário).
Um bem haja a si e não se preocupe com aqueles “lambe-rabos” ou submissos (que constantemente têm dado “ideias” falsas de voluntarismo da na nossa classe. Por isso os governantes pensam que podem fazer o que querem. A Lei tem de ser protegida num Estado de direito.
Abraço,
Vasco André Oliveira
Muito bem, colega! Completamente de acordo! Pena a classe ser tão desunida!
Estarei eu também na escola… pois já referiram que apenas têm salas disponíveis… logo, respondi que teria de ser assim… estou a aguardar o número da sala…
estás lixado! já não te safas! a não ser que venhas para a Arca! mas traz um burro!
Olá!!!
Não podia estar mais de acordo!!…
Fala-se da situação dos alunos, das escolas…e dos professores, ninguém quer saber? Assume-se (Escola, EE…) que estes só têm que trabalhar!
Só não percebo onde é que andam todos os sindicatos que não abordam este assunto…
Está a demonstrar grande coragem e dignidade pessoal e profissional.