No âmbito da 2ª reunião do Conselho Geral ComRegras.
Ponto um: Como reanimar as salas de professores.
Façamos um resumo.
Há uma legião de professores contratados sujeita a um processo de desprezo profissional: os concursos são, a léguas, os mais incivilizados da Europa e a vinculação uma história kafkiana.
Os professores do quadro demonstram uma espantosa resistência associada ao faz de conta. Mas as imagens alojam-se e inscrevem os acontecimentos mais significativos: anos a fio com uma avaliação do desempenho assente no absurdo dos pontos e das cotas e sem qualquer sinal de progressão salarial, divisões injustas na carreira que foram vencidas mas que deixaram marcas, mais turmas e com mais alunos, inutilidades informacionais e horárias como serviço não lectivo, hiperburocracia em regime bacteriano, desorientação didáctica e curricular e megagrupamentos com um modelo de gestão “impensado” e que transportou o pior da partidocracia local para dentro das escolas numa clara afirmação de desconfiança nos professores. Aliás, a confiança é até a palavra-chave. A palavra de um professor vale menos do que um qualquer relatório, mesmo que seja no formato “copiar e colar”.
É natural que o sentimento de “fuga” se afirme como primeira prioridade. E sublinhemos: o corpo docente está com uma média etária muito elevada para o que é aceitável numa profissão tão exigente.
Para além do que foi dito, importa sublinhar que os meios de comunicação social estão há uma dezena de anos a publicitar em primeira página, e com a cumplicidade do poder político, a devassa da carreira dos professores e o “tudo está mal na escola pública”.
É consequente, portanto, que se leiam apelos a um programa decente de reformas em regime especial como meio de reanimação das salas de professores. Mas não bastará se o quadro conhecido não for alterado. Será uma substituição de desesperançados por “proletarizados” em estado de revolta contida.
Ponto dois: Ensino profissionalizante ou vocacional no Ensino Básico.
Em regra, este tipo de percurso escolar muda de designação quando muda o governo. A novidade do último Governo foi a tentativa de iniciar estes programas de combate desesperado ao insucesso escolar ainda mais cedo e em turmas com quase o dobro dos alunos.
A generalidade destas turmas vocacionais no ensino básico são antecâmaras de delinquência juvenil ou parques de estacionamento de potenciais desempregados. Desta vez agravou-se com a referida sobrelotação além da troika. Este fatalismo é uma prova da sociedade ausente que deixa tudo à escola transbordante. Não actua quando o insucesso se projecta nos primeiros anos de escolaridade e “desorienta-se” se a tragédia chega à adolescência e tem o sistema prisional como destino.
O flagelo do insucesso escolar só terá uma descida consistente quando for encarado como uma tarefa prioritária de toda a sociedade e podendo, por exemplo, adquirir uma responsabilização objectiva ao nível concelhio.