Já sabemos que a cultura do chumbo está fortemente enraizada nas nossas escolas. Já sabemos que chumbo só por si pouco ou nada muda, a probabilidade do insucesso custuma agravar-se no ano seguinte.
Chumbar por chumbar é estéril, pouco ou nada resolve e normalmente agrava a situação do aluno. O grande problema do chumbo é acreditar que a repetição só por si irá resolver alguma coisa, o chumbo é o resultado de um conjunto de fatores, e se esses fatores não forem corrigidos, o chumbo irá apenas incentivar a revolta, a frustração, a vontade de vingança, mesmo que a consequência maior seja para o próprio aluno. Então o que fazer?
Tenho uma parte de mim que é apologista da abolição total do chumbo, que os alunos e os pais devem assumir que o aluno tem 12 anos para aprender e preparar-se para a sociedade/Ensino Superior. Se não aproveitar, temos pena, assumam as consequências das suas (in)ações e negligências.
(Não incluir nestas minhas palavras qualquer tipo de insensibilidade, sou o primeiro a perceber que nem todos os alunos são brilhantes e as dificuldades cognitivas fazem parte do quotidiano escolar. Cabe aos professores cumprirem com as suas funções.)
Outra parte de mim defende a punição dos alunos/famílias que não fazem o seu trabalho, que esperam ser levados ao colo, chumbando-os porque merecem e separando-os dos colegas que se esforçam por aprender e valorizam a escola.
Esta “luta” interna surge frequentemente nos conselhos de turma de final de ano, e apesar de ter na bagagem 16 anos de docência, ainda hoje vivo este conflito interno… Algo que (felizmente) vejo em muitos colegas meus.
A solução passa por analisar cada caso e ponderar todos os fatores: cognitivos; sociais; familiares. Verificar o ponto de partida, o ponto de chegada e definir o que é sucesso para aquele aluno em particular. Depois é decidir por aquilo que acredito ser mais benéfico para o aluno, mesmo que não seja do seu agrado…
O futuro dirá se a decisão tomada foi a mais acertada…
Mais de sete em cada dez escolas do 3.º ciclo e secundário não conseguem que a maioria dos seus estudantes passe de ano e tenha positiva nos exames nacionais, segundo dados do Ministério da Educação.
No ano passado, em 75% das escolas do 3.º ciclo mais de metade dos alunos não conseguiu concluir o 9.º ano sem chumbar pelo menos uma vez ou sem ter negativa numa das provas nacionais.
Num universo de 1.145 escolas, apenas 287 (25%) conseguiram que pelo menos metade dos seus alunos tivesse um percurso direto de sucesso.
No secundário, a situação agravou-se ainda mais: só 15,7% das escolas tiveram mais de metade dos seus alunos com percursos diretos de sucesso.
Das 546 escolas secundárias analisadas, só 86 tiveram pelo menos 50% dos seus alunos com sucesso, sendo que as primeiras 30 da lista são escolas privadas.
No 3.º ciclo, a primeira escola pública aparece em 12.º lugar mas a segunda pública só aparece em 31.º lugar.
Fonte: TSF